quinta-feira, 30 de outubro de 2025

SEXO E FUNERAL

Diógenes Moura

Há livros que nascem do espanto. Outros, da dor. Sexo & Funeral, novo romance de Diógenes Moura, nasce de ambos e, também de um silêncio que se prolongou por 42 anos. O escritor, recifense de origem e baiana por adoção durante quase duas décadas, retorna agora às memórias que nunca o abandonaram para transformar ausência em palavra.

O lançamento acontece nesta sexta-feira (31), às 19 horas, no Museu da Fotografia Fortaleza (MFF), marcando um encontro entre literatura e imagem. O momento contará com a leitura de um monólogo e um bate-papo com o jornalista Diego Barbosa, aprofundando as camadas de afeto, memória e criação presentes na obra.

O romance, ilustrado por Milton Mastabi, tem origem no assassinato de um amigo próximo em Salvador, episódio que atravessou a vida do autor como uma sombra persistente. A partir desse acontecimento, Moura constrói uma narrativa que não se submete às fronteiras tradicionais do real. O livro é um mergulho poético e inquietante nas zonas onde o desejo se confunde com o luto, onde o corpo é presença e também fantasma.

Com seu estilo próprio, conciso e, ao mesmo tempo, visceral, o autor tece uma geografia humana marcada por lembranças que nunca se completam. Personagens reais transitam ao lado de figuras imaginadas, dando forma a um mosaico literário que busca compreender aquilo que não se diz, o destino, a perda, a melancolia que se instala quando o mundo desaba sem explicação.

A narrativa é conduzida por imagens de intensa força sensorial: beijos que se prolongam à beira-mar, ruas úmidas que parecem ocultar rastros de algo irreparável, um cigarro de maconha perfumado de patchouli ao entardecer, a delicadeza das joias de marcassitas e o choque brutal de uma cabeça decepada ou de uma vivissecção iniciada em silêncio. Tudo isso sob um sol que, como diz Moura, “impede o juízo de apodrecer”.

Mais do que sobre um crime, Sexo & Funeral é sobre o depois, o intervalo denso onde ecoam memórias, culpas, desejos e ecos de quem já não está. Moura não narra apenas um fato: ele devolve ao acontecimento a sua temperatura emocional, reconstruindo-o através da escrita como quem tenta habitar o próprio silêncio para entender aquilo que restou.

Sobre o autor

Com uma trajetória marcada pela experimentação e pela profundidade, Diógenes Moura reafirma neste livro sua posição como uma das vozes mais intensas da literatura brasileira contemporânea. Prêmio APCA pelo livro Ficção Interrompida (2011) e semifinalista do Prêmio Oceanos com O Livro dos Monólogos (2019) e Vazão 10.8 (2021), o autor tem se destacado por obras que atravessam a solidão, o corpo e a memória.

SOBRE O MUSEU DA FOTOGRAFIA FORTALEZA

Inaugurado em 10 de março de 2017, o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) conta com dois andares de acervo fixo e um dedicado a exposições temporárias.

Com uma equipe de mais de 40 profissionais atuando nos setores de educação, ação social, cultura e administração, o museu garante sua manutenção e realiza atividades que fortalecem a relação com a comunidade e preservam a memória de Fortaleza e do mundo. Atualmente, o museu conta com quatro programas principais,  Museu na Comunidade, Museu na Saúde, Museu Acessível e Museu Itinerante, que juntos englobam 12 projetos.

O MFF oferece cursos, oficinas e visitas guiadas, especialmente para a terceira idade, artistas, estudantes e educadores, em parceria com secretarias estaduais e municipais de Cultura, Turismo e Educação.


 

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