Sobre
os espetáculos
Abrindo
a programação, no domingo (31), Brunno de Jesus (Bahia) performa "SAMPLE:
é que nem cortar quiabo", solo que reverencia a memória de danças que
deixaram rastros e se transformam em outras danças e homenageia artistas das
danças negras, como Mestre King, Marilza Oliveira, Jorge Silva, Vania Oliveira,
entre outros. Livremente inspirado no maculelê, dança dos orixás e na interação
sonora com o público, o artista provoca quais danças dos nossos mais velhos
compõem nossas camadas de memórias. "Samplear essas danças é dançar a sua
dança memória", argumenta.
Na
terça-feira (2), o pernambucano Jorge Garcia, um dos mais conceituados e requisitados
coreógrafos brasileiros da atualidade, volta ao Ceará para apresentar
"Estudos para Quimera", seu novo trabalho, criado em parceria com a
bailarina argentina Irupé Sarmiento. "Estudos para Quimera" é o
primeiro processo de pesquisa dos bailarinos para a criação do espetáculo
"Quimera", que reflete sobre os tempos em que vivemos, onde o horror
e o absurdo são naturalizados. Situações que se misturam em um diálogo ilusório
num lugar vazio onde tudo é possível. Onde a ilusão e a devastação se misturam
de forma sutil e orgânica. No dueto, é possível ver Jorge García e Irupé
Sarmiento, dois intérpretes de reconhecidas carreiras profissionais nacionais e
internacionais, num diálogo paradoxal entre dois universos completamente
diferentes numa conexão e sintonia fina que leva os corpos aos seus limites,
mostrando assim suas vastas experiências artísticas, corporais, técnicas e
criativas.
Na
quarta-feira (3), é a vez de Edvan Monteiro (Ceará/São Paulo) apresentar
"O Chamado da Jandaia". Projeto
fomentado pelo Programa Funarte Retomada 2023 - Dança -, a ação
artística consiste na chegada de um indígena que vem do ano de 2542 dentro de
um processo de futuro e passado, atendendo a um chamado do presente, com o
objetivo de encontrar seus parentes e com isso ele se depara com um mundo sendo
destruído pelas invasões, seguido pela destruição das florestas, dos rios, com
a extinção dos animais, a exploração dos minérios dentro da terra e nos mares,
a exploração do céu na tentativa de habitar outros planetas, guerras por
recursos devido a alta população mundial provocada pela centralização nas mãos
das grandes corporações, causando enormes tragédias humanitárias e também
planetária. Que recursos ancestrais utilizamos para uma grande retomada, as
encantarias, as memórias ou o PRESENTE? Através da construção do mapa cósmico
(GPS indígena) ali desenhado em pedras no chão, o artista vai na busca de se
reconectar consigo mesmo em sua ancestralidade iniciando então a sua diáspora,
procurando pelos parentes, guiado pelos céus, pelas forças da natureza e
acompanhado pelo chamado do pássaro Jandaia. Todo o processo dessa performance
é uma busca de construir uma mensagem direta com o público, fazendo com que o
espectador embarque nesse movimento, na dor, na força do organismo vivo se
adaptando ao ambiente violado.
Na
quinta-feira (4), em "After Slows", a Cie. Aurelia (França) e Rita
Cioffi (Itália) trazem à cena corpos que já experimentaram diversas danças,
como corpos de arquivo que já dançaram durante muito tempo. Guardiões de um
pedaço da história da dança que passou por eles. Depois de tantos anos de
experiência, que abandono é ainda possível? Que desejo? Que desconhecido? Que
confronto entre memória e imaginário? Que negociação com um corpo em mudança?
Perante um tempo que passou tão depressa, tendo experimentado o sabor da
conquista e da perda, como resistir ao fatalismo da renúncia? Fazer vibrar os
sentidos? Manter viva a alegria subversiva da dança? Diz-se muitas vezes: o que
é que se segue?
Na
sexta-feira (5), Laura Samy e Alice Poppe revisitam figuras dos solos
"Dança Macabra" (2016) e "Máquina de Dançar" (2014),
respectivamente, que têm em comum o gesto de debruçar-se sobre si mesmas. Em
"Cravo" (2021), o gesto é ressignificado em sua delicadeza e
brutalidade. O deslocamento é inevitável. A imagem de uma estrada evidencia o
traçado que as une em tempos e lugares distintos. No limiar entre a ficção e a
realidade, avançam lado a lado, movidas por sentidos que decorrem das guerras,
dos sonhos e de suas memórias. A criação surge do encontro das dançarinas em
diálogo com a linguagem cinematográfica, de modo a revelar, através das noções
de profundidade, plano, contra plano e corte, variadas possibilidades
expressivas do gesto dançado. Inspirada em clássicos da música, da literatura e
do cinema, a cena tensiona a tradição e a contemporaneidade.
No
sábado (6), a Cie. Gelmini em parceria com a Cia. Híbrida (Rio de Janeiro)
apresentam "Pulso", espetáculo que desloca representações à medida que
o bailarino em cena e o bailarino em tela se atravessam entre gestos e
consciências, produzindo estados de presença entre o bruto e o tempo em
suspensão. A pulsação, a menor e mais constante unidade de ritmo, a mais
indescritível para a montagem de um filme e de corpos em movimento. Quando se
trata da redução do ritmo, poderia ser o pulso que nos conecta ao momento
presente, que nos permite escutar nossos corpos e compreender nossa
vulnerabilidade como uma forma de potência? "Pulso" é o sexto
espetáculo da Cie. Gelmini e a terceira parceria com a Cia. Híbrida. Ele foi
realizado em residência artística entre França e Brasil, tendo estreado em 2023
no Teatro do Oprimido de Paris e no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de
Janeiro pelo Dança em Foco.
Encerrando
a programação no Dragão, "Percursos de Criação" reunirá, no domingo
(7), às 21h, um elenco de seis artistas cearenses em um processo colaborativo,
criativo e afetivo disparado pelo coreógrafo Marcelo Evelin. Silvia Moura,
Claudia Pires, Bilica Léo, Graça Martins e Claudio Bernardo, artistas
experientes e reconhecidos em nível nacional e internacional, se lançam na
construção de uma partitura dançada por um feixe de indivíduos dançantes, que
há muito tempo dançam como quem deixa rastros pelo mundo.
Sobre
a Bienal
Apresentada
pelo Ministério da Cultura, Governo do Estado do Ceará, Enel Distribuição Ceará
e Petrobras, por meio do programa Petrobras Cultural, a XIV Bienal
Internacional de Dança do Ceará é uma realização da Indústria da Dança, tendo
como patrocinadores Cagece, Banco do Nordeste (BNB) e Petrobras, via Lei
Federal de Incentivo à Cultura. Apoio Institucional: Cineteatro São Luiz,
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Hub Cultural Porto Dragão, Escola Porto
Iracema das Artes, Theatro José de Alencar, Mercado AlimentaCE, Estação das
Artes e Secretaria da Cultura do Ceará por meio da Lei Estadual de Incentivo à
Cultura (Mecenato). Apoio Cultural: Enel Distribuição Ceará. Este projeto conta
ainda com a parceria do Centro Cultural Companhia de Dança de Paracuru, do
Sobrado da Abolição /Centro Cultural Eduardo Campos - Pacatuba, da Prefeitura
de Itapipoca, da Prefeitura de Trairi e da Prefeitura de Paracuru, sendo
realizado por meio do Edital de Apoio a Festivais Culturais do Ceará da
Secretaria da Cultura do Ceará, via Lei Paulo Gustavo.
Serviço:
XIV Bienal Internacional de Dança do Ceará no Dragão do Mar
Período:
31 de março a 7 de abril de 2024
Nos
dias 31/03 e 02 a 06/04, às 19h, e dia 07/04, às 21h, no Teatro Dragão do Mar
(Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Acesso
gratuito mediante retirada de ingressos na página do evento na plataforma
Sympla Bileto (https://www.sympla.com.br/produtor/bienaldedanca)
Consulte
as classificações.
Mais
informações: no site bienaldedanca.com e no Instagram @bienaldedanca ou pelo
e-mail bienaldedancace@gmail.com.