O
documentário Minha Perna, Minha Classe refaz o percurso da infância de Manoel,
permeada de violência na zona rural do Maranhão, ao retorno ao Brasil
pós-exílio na Suíça. Dentre os destaques, a viagem de Manoel à China, onde fez
cursos e se aprofundou no pensamento maoísta; o ano de 1972, quando foi preso
novamente e brutalmente torturado, no Rio de Janeiro, com sequelas para toda a
vida e, 1979, com a Anistia, quando regressa ao Brasil e se engaja na fundação
do Partido dos Trabalhadores (PT). Manoel foi o terceiro militante a assinar a
ficha de filiação do partido, ao lado de Mário Pedrosa e Apolônio de Carvalho.
Ele contribuiu, ainda, ativamente na fundação da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (Centru) e da
Escola Técnica Agroextrativista (ETA).
Lavrador,
camponês, ferreiro, educador, sindicalista, ambientalista, pensador da luta por
igualdade e reforma agrária, líder político, que foi preso, mutilado, torturado
e exilado pela ditadura. Esse universo multifacetado do maranhense Manoel da
Conceição (1935-2021) é tema do documentário Minha Perna, Minha Classe. O filme
será lançado no dia 18/03, na Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana, em São
Paulo (SP). No final de março, será disponibilizado gratuitamente em
plataformas digitais.
Arturo
Saboia (direção e roteiro) e Cassia Melo (produtora executiva) têm, no
currículo, dentre outros prêmios, 6 Kikitos, no Festival de Gramado, pelo curta
Acalanto (2013), o primeiro e já bem-sucedido trabalho da dupla. Para retratar a vida e luta desse líder
incansável, a equipe se debruçou sobre pesquisas, entrevistas, depoimentos,
documentos de época e visitas às locações marcantes da trajetória de Mané da
Conceição, como era conhecido. O projeto conta com a Lei de Incentivo à
Cultura, patrocínios do governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus e
realização da Clímax Filmes e Oito Projetos Criativos.
Subversivo
indomável. Assim se definiu o próprio Manoel da Conceição, em entrevista
histórica ao jornal O Pasquim. Primogênito de um casal de lavradores, Manoel
nasceu, em 1935, em Pedra Grande (MA). Manoel e sua família foram expulsos
diversas vezes das terras que cultivavam. Na década de 1950, com o apoio do
Movimento de Educação de Base, o MEB do educador Paulo Freire, Manoel conseguiu
se alfabetizar, se politizar e ter consciência da exploração e da injustiça do
latifúndio. Em 1963, fundou e foi eleito presidente do primeiro sindicato de
trabalhadores rurais do Maranhão, o Pindaré-Mirim. Com o golpe de 1964, o
sindicato foi dissolvido e Manoel passou um mês preso, junto com outras
lideranças. Em 1967, vincula-se à Ação Popular (AP) e, apesar da repressão,
mantém o sindicato atuante. Em 1968, a Polícia Militar invade o sindicato e
Manoel é baleado no pé. Preso sem qualquer tratamento por uma semana, Manoel
perde a perna direita gangrenada. Na época, o governo tentou silenciar Manoel,
que respondeu: “Minha perna é minha classe”. O resto é história.
“Tive
a ideia de fazer este filme quando conheci Manoel da Conceição, há 20 anos, ao
fazer uma pesquisa de locação. Foi um privilégio. Acabei viajando com ele por
comunidades, assentamentos e aldeias no interior do Maranhão. Há 2 anos, em
plena pandemia, resolvi transformar o sonho em realidade e chamei para o
projeto um roteirista com esse olhar pungente, o cineasta maranhense Arturo
Saboia, colega de longa data. E a ideia não é parar no documentário. A vida do
Manoel rende uma série e precisa ser propagada, porque se funde com a própria
história do país”, destaca a produtora Cassia Melo. Paulista de nascimento e
publicitária de formação, Cassia começou sua carreira no audiovisual com o
cineasta Fernando Meirelles, na O2 Filmes, e não parou mais. Há 20 anos, atrás
das raízes paternas, se mudou para o Maranhão e fundou a Oito Projetos
Criativos. A produtora é pioneira, em São Luís, em alavancar projetos culturais
e esportivos por meio de leis de incentivo. E, agora, segundo ela, lança o
projeto da sua vida.
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