Acredita-se
que a rabeca, um instrumento de corda e arco, precursor do violino, seja de
origem árabe, e que chegou ao Brasil por meio dos portugueses e espanhóis.
Menos refinado em comparação ao violino, a rabeca se popularizou no nordeste
brasileiro e foi o primeiro instrumento melódico de cordas utilizado no forró.
Na localidade de Sítio Baixio dos Gaviões, no município de Umari, a Mestra Ana
da Rabeca domina o instrumento, o que lhe rendeu diversos títulos, e agora será
o próximo Museu Orgânico a ser inaugurado pelo Sesc em parceria com a Fundação
Casa Grande, no sábado, 27, a partir das 15h.
Museu
Mestra Ana da Rabeca será o primeiro Museu Orgânico do Sesc-CE a homenagear o
ciclo instrumental popular do nordeste brasileiro. De acordo Alemberg Quindins,
gerente de cultura do Sesc Ceará, é um museu que traz a tradição, o ciclo de
diálogo e intercâmbio instrumental da nossa Região. “Ela é a única mulher
rabequeira cearense, reconhecida como Mestra Tesouro Vivo do Ceará. E como
rabequeira, Ana traz essa profundidade da história desse instrumento na cultura
do Nordeste e na cultura do Ceará”, avalia.
Alemberg
explica que os museus orgânicos ressaltam os diversos ciclos culturais, sociais
e econômicos do Estado, como o ciclo do couro, representado por Mestre Espedito
de Seleiro; o ciclo do algodão, com Mestre Dinha; o ciclo de Reis, com Mestre
Antônio Luiz; o ciclo do açúcar, com o Museu do Doce de Madeilton, e agora, o
ciclo dos instrumentos musicais, com a Mestra Ana da Rabeca. “O Sesc vem
reconhecendo os territórios culturais e os ciclos, e dentro desses ciclos, os
mestres”, reforça.
Ana e
a rabeca
A
primeira paixão musical de Ana foi a sanfona. Com as duas irmãs, Maria e
Honorina, montou uma banda que trazia em seu repertório músicas dos anos 1960,
muito xote, baião, valsa e choro, além dos clássicos do rei do Baião, Luiz
Gonzaga. Mas para além da sanfona, Ana gostava de olhar o pai tocar a rabeca e
aprendeu a afinar o instrumento com ele. "Quando ele soltava, eu
pegava", conta Ana, em um levantamento histórico realizado pelo professor,
escritor e pesquisador da cultura cearense, Gilmar de Carvalho.
Acabou
ganhando do pai a rabeca, que não é bem uma rabeca de origem, mas um violino
francês com certificação. Certo dia, o
violino acabou precisando de um conserto, feito por pai de Ana, que teve de
desmanchar e montar novamente o instrumento, e com isso, acabou perdendo seu
som agudo de violino e ganhando som mais grave, de rabeca.
Ana
aprendeu a tocar ouvindo o pai. Aos 15 anos já havia desvendado o instrumento.
A banda com as irmãs se desfez quando elas se casaram. Ana também casou,
mudou-se para São Paulo e anos depois voltou para Umari, lugar onde se
consagrou. Segundo Gilmar de Carvalho, Ana da Rabeca não compôs, mas tem um
repertório rico.
Fundou
a sua Escola de Música em 2019 e recebeu a certificação de Ponto de Cultura
pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará em 2023. Na Escola, Ana repassa
para crianças e adolescentes a sua arte e o seu saber. Em 2022 recebeu o título
de Mestra da Cultura – Tesouro Vivo do Ceará. Foi premiada duas vezes pelo
Ministério da Cultura como Mestra da Culturas Populares e pela Fundação Joaquim
Nabuco com o prêmio de Economia Criativa pela fundação da Escola de Música.
Museus
Orgânicos
O
Museu Casa da Mestra Ana da Rabeca será o 17º museu orgânico inaugurado pelo
Sesc. Eles são baseados no vínculo com a história e dos lugares onde vivem e
atuam os mestres de cultura popular. O projeto nasceu com o amadurecimento da
parceira com a Fundação Casa Grande, localizada na cidade de Nova Olinda, para
o fortalecimento de uma rede formada por lugares de memória, sendo o Sesc um
ativador desses espaços.
Para
que se tornem Museus Orgânicos, os projetos passam por pesquisas e estudos
consistentes a respeito de cada tradição cultural, suas referências coletivas e
o impacto na comunidade.
Serviço
Inauguração
Museu Casa da Mestra Ana da Rabeca
Data:
27 de abril
Horário:
15h
Local:
Sítio Baixio dos Gaviões - Umari
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