Lançado
em 2022, o filme ‘Pureza’ é inédito na televisão brasileira e será exibido
hoje pela TV Globo, na Tela Quente, após a novela Terra e Paixão.
Protagonizado por Dira Paes, dirigido por Renato Barbieri e produzido por
Marcus Ligocki Jr, o longa é inspirado na história real de Pureza Lopes Loyola,
uma mãe brasileira que, durante três anos, desafiou todos os perigos para
encontrar seu filho e se tornou um símbolo do combate ao trabalho escravo
contemporâneo. A exibição é uma homenagem aos 125 anos do Cinema
Brasileiro e pelo prêmio ‘Heróis no Combate ao Tráfico de Pessoas’, entregue à
Pureza, na última quinta-feira (15/06), em Washington, D.C, pelo
secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, por seus esforçosno combate
aos trabalhos em condições análogas à escravidão no Brasil.
Aos
80 anos, Pureza Lopes Loyola é a única brasileira a receber os dois prêmios
internacionais mais importantes na luta contra o trabalho escravo e tráfico
humano no mundo. Em 1997, em Londres, recebeu o prêmio Antiescravidão oferecido
pela organização não-governamental britânica Anti-Slavery International, a mais
antiga organização abolicionista em atividade, um feito inédito para uma mulher
nordestina, preta, pobre e que se alfabetizou somente aos 40 anos, com o
objetivo de ler a Bíblia.
Trinta
anos de ativismo
Em
2023, a trajetória de Pureza Loyola completa 30 anos. Seu empenho em coletar
provas sobre trabalhadores em situação análoga à escravidão, na Amazônia, deu
impulso decisivo à criação, em 1995, do Grupo Especial de Fiscalização Móvel,
que uniu auditores-fiscais do trabalho, policiais federais e procuradores do
trabalho para viabilizar o cumprimento da lei e a observância de direitos
trabalhistas em todo o território nacional.
Entre
1995 e 2021, o Grupo Móvel libertou mais de 62 mil trabalhadores em condições
análogas à escravidão. Em 2018, segundo estimativas da Walk Free Foundation,
369 mil pessoas foram submetidas à escravidão no Brasil. No mesmo ano, segundo
a OIT, 40,3 milhões de pessoas foram submetidas à escravidão em todo o mundo.
No ano passado, a estimativa da OIT para escravizados no mundo subiu para 50
milhões.
Dona
Pureza
“Os
olhos do mundo iriam vê-la “, essa foi a frase ou profecia que Pureza Lopes
Loyola ouviu de seu pastor uma semana antes de receber a ligação do diretor
Renato Barbieri, com a notícia de que gostaria de filmar sua história de luta
contra a escravidão moderna, no ano de 2007. Ali ela decifrou a mensagem: “os
olhos do mundo é o cinema”. O filme Pureza já foi exibido, até o presente
momento, em 20 países.
Dezesseis
anos após esse telefonema, Pureza recebeu das mãos do governo americano a
mais alta honraria que uma ativista pelos Direitos Humanos pode receber, além
de ter sua história de vida aplaudida em todas as esferas de poder no Brasil e
outros países.
Pureza
Lopes Loyola nasceu em Presidente Juscelino, município a 85 km de São Luís
(MA), e se mudou para Bacabal, a 240 km da capital, onde o marido tinha
parentes. Com o fim do casamento, a sobrevivência passou a depender da olaria
familiar e da venda de tijolos na qual trabalhava com seus cinco filhos.
Em
1993, depois de meses sem notícias do filho caçula, Antônio Abel, que partiu
para a Amazônia em busca da sorte no garimpo, Pureza decidiu seguir seu rastro.
Com a roupa do corpo e munida de uma bolsa, sua Bíblia e uma foto de Abel,
Pureza estava decidida a encontrá-lo vivo ou morto. Sabia apenas que ele tinha
ido ao Pará.
Em
sua busca determinada por Abel, Pureza visitou grandes fazendas e
descobriu um perverso sistema de aliciamento e escravidão de trabalhadores “contratados”
para derrubar grandes extensões de mata nativa a fim de converter a área em
pastagem para o gado. De fazenda em fazenda, Pureza conheceu de perto o drama
dos peões, tornando-se amiga e confidente dos trabalhadores. Conheceu por
dentro o sistema pelo qual os empregadores confiscavam documentos de identidade
dos empregados e tornavam-nos totalmente dependentes dos encarregados para
obter ferramentas de trabalho, víveres e produtos básicos. Ouviu relatos
dramáticos de trabalhadores que poderiam ser mortos se tentassem se rebelar ou
fugir.
Com
a ajuda da Comissão Pastoral da Terra – a CPT, Pureza entrou em contato com o
Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho no Maranhão, no Pará
e em Brasília. Chegou a escrever cartas para três presidentes da República:
Fernando Collor, Itamar Franco (o único que lhe respondeu) e Fernando Henrique
Cardoso. Até hoje, ela guarda uma cópia de cada uma dessas cartas. Hoje, Abel
vive em Bacabal com Pureza e a família. A política de combate ao
trabalho escravo no Brasil se tornou referência mundial.
Sobre
o filme Pureza
O
longa-metragem é um filme ficcional com um processo inédito de engajamento
social desde sua viabilização, que conta hoje com a participação de mais de 95
organizações nacionais e internacionais atuantes na causa, tais como Comissão
Pastoral da Terra – CPT, Ministério Público do Trabalho – MPT, Sistema Justiça
do Trabalho e a Anti Slavery International, dentre muitas outras. ‘Pureza’
causa impacto e identificação ao abordar a realidade da mecânica do trabalho
escravo. Do aliciamento de trabalhadores feito à base de falsas promessas
de “emprego bom” e “salário bom”, esses passando por situações de grande
violência física e emocional, apreensão dos documentos, endividamento enganoso,
jornadas exaustivas, condições degradantes e até cárcere privado. Como diz Dona
Pureza, “para boa parte desses escravizados, o salário é a morte”.
Desde
o lançamento do filme, em maio de 2022, mais de 100 sessões sociais foram
realizadas em diversas capitais e regiões vulneráveis do Brasil profundo, com o
objetivo de sensibilizar e ampliar a consciência social sobre a trágica e
criminosa realidade do trabalho escravo contemporâneo e promover o engajamento
para a promoção do trabalho digno no Brasil.
Como
parte desses ciclos de projeção seguida de conversas em favor do combate e
erradicação do trabalho escravo contemporâneo, o filme “Pureza”, em potente
parceria com a CPT, segue com intensa agenda junto a escolas e associações da
sociedade civil organizada, bem como estabelecendo uma conexão direta e
rara entre
Justiça
e Arte cinematográfica, tendo como entusiastas juízas e juízes,
desembargadoras e desembargadores, procuradoras e procuradores do trabalho
(MPT) por todo o país.
Instagram
do filme "Pureza" @purezaofilme
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