O fim
do ano costuma trazer uma combinação desafiadora para a saúde financeira de
famílias e empresas: aumento de despesas, queda no ritmo da atividade econômica
e compromissos típicos do período, como compras de Natal, férias, impostos e
reajustes. O resultado é que grande parte dos brasileiros chega a janeiro com o
orçamento pressionado. Uma pesquisa do Serasa Experian mostra que apenas 42,3%
das pessoas conseguem fechar o ano com as contas em dia. Entre empresários, o
cenário é semelhante: para muitos, a virada de ano representa um risco real de
aperto financeiro.
O
quadro nacional evidencia essa fragilidade. Em setembro, o número de
consumidores inadimplentes alcançou 79,2 milhões, quase metade da população
adulta do país, totalizando R$ 496,7 bilhões em dívidas. Cada CPF possui, em
média, quatro dívidas ativas, com valor médio superior a R$ 6,2 mil. O setor financeiro
concentra quase 47% de todas as pendências, relacionadas principalmente a
bancos e cartões de crédito. A situação também se repete no ambiente
empresarial: 7,95 milhões de micro e pequenas empresas estão inadimplentes, o
maior patamar já registrado.
Segundo
Kelvia Carneiro, presidente da Cactvs e doutora em administração, enfrentar
esse período exige planejamento antecipado, tanto para pessoas físicas quanto
jurídicas. “Ter clareza sobre receitas, despesas e obrigações ajuda a evitar o
ciclo que se repete todos os anos: consumo elevado em dezembro seguido de
dificuldades em janeiro e fevereiro”, explica.
As
maiores variações regionais foram observadas nas regiões Norte, Sul e Sudeste,
evidenciando a fragilidade estrutural dos pequenos negócios em manter a
regularidade de suas obrigações financeiras. Após a retração pontual observada
em agosto, a demanda por crédito entre micro e pequenas empresas voltou a
crescer com força em setembro, registrando alta anual de 16,0%. Esse movimento
reflete, em parte, a preparação dos empreendedores para o pico de despesas
típico do fim do ano, mas também revela a dependência crescente de linhas de
financiamento em um cenário de margens apertadas e custos elevados.
Para a
especialista, o aumento da procura por crédito às vésperas da virada do ano
reforça a importância de antecipar decisões financeiras e evitar que o empréstimo
se torne a única saída. Empresas que se organizam com antecedência conseguem
negociar melhores condições, ajustar estoques de forma mais eficiente e
planejar o fluxo de caixa para atravessar o início de 2026 com mais segurança.
O mesmo vale para consumidores, que podem se beneficiar de renegociações, corte
de despesas e organização do orçamento antes do acúmulo de compromissos de
janeiro.
Separar
gastos essenciais dos supérfluos, evitar compras por impulso e prever custos de
início de ano, como IPVA, material escolar e seguros, são passos fundamentais.
“O ideal é criar uma projeção realista do orçamento para os três primeiros
meses do ano, evitando depender de crédito de curto prazo”, orienta o
especialista. Manter uma reserva, ainda que pequena, reduz a necessidade de
recorrer a empréstimos emergenciais, que, com juros elevados, alimentam o ciclo
da inadimplência.
Já o
uso consciente do crédito e a renegociação de dívidas também são medidas
eficazes para quem deseja iniciar 2026 com estabilidade. De acordo com o
especialista, negociar juros, ampliar prazos ou consolidar dívidas pode aliviar
significativamente o orçamento. “A renegociação antes da virada do ano impede
que os compromissos se acumulem junto às despesas típicas de janeiro.”
No
caso dos micro e pequenos empresários, o planejamento do fluxo de caixa é
decisivo. O especialista reforça a importância de separar as finanças pessoais
das empresariais, erro comum entre pequenos negócios. “Misturar contas coloca a
operação em risco e dificulta entender o real desempenho da empresa.”
Outras
recomendações incluem: controlar rigorosamente estoques, evitar compras além da
demanda prevista, analisar contratos e despesas fixas e considerar, quando
adequado, a antecipação de recebíveis. “A antecipação pode ajudar no curto
prazo, mas deve ser avaliada com cuidado para que os juros não comprometam a
margem.”
A
falta de reservas financeiras é outro ponto sensível para ambos os públicos.
Para famílias, a ausência de um fundo de emergência amplia a vulnerabilidade
diante de imprevistos. Para empresas, impede a absorção dos meses de baixa
temporada sem recorrer a crédito mais caro.
Além
disso, o especialista destaca a importância do relacionamento com clientes como
ferramenta de estabilidade pós-festas. Em negócios menores, estratégias de
fidelização e pós-venda podem ajudar a sustentar o fluxo de caixa em janeiro,
quando normalmente há retração.

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