sábado, 20 de dezembro de 2025

OFICINAS FORTALECEM TRABALHADORES DO SETOR DE CARNAÚBA EM COMUNIDADES RURAIS DE GRANJA

Foto divulgação

A Associação Caatinga realizou duas oficinas de boas práticas na cadeia produtiva da carnaúba nas comunidades de Ibuaçu Velho e Ubatuba, em Granja, a cerca de 338 quilômetros de Fortaleza. As formações mobilizaram produtores e trabalhadores rurais que atuam na extração da palmeira nativa, matéria-prima da cera de carnaúba, uma das pautas agrícolas mais exportadas do estado. Ambas as comunidades estão no entorno do Parque Estadual das Carnaúbas (PEC), Unidade de Conservação de 10.005 hectares que abrange os municípios de Granja e Viçosa do Ceará, sob a gestão da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA).

As oficinas foram realizadas no âmbito do projeto “Caatinga Preservada”, iniciativa que busca ampliar e qualificar a gestão de áreas legalmente protegidas no bioma Caatinga no Ceará. A iniciativa é desenvolvida em parceria com a SEMA e inclui a elaboração de um manual de boas práticas para a cadeia produtiva da carnaúba na região. Além disso, o projeto contempla ações voltadas à conservação do Parque Estadual das Carnaúbas, como a elaboração de um plano de visitação e a instalação de placas informativas na Unidade de Conservação.

De acordo com Nara Magalhães, gestora do Parque Estadual das Carnaúbas, as oficinas realizadas nas comunidades do entorno da Unidade de Conservação cumprem um papel estratégico ao fortalecer o extrativismo sustentável e aproximar os trabalhadores das políticas públicas ambientais. “Estamos na comunidade de Ibuaçu Velho realizando uma das oficinas para a elaboração do Manual de Boas Práticas da cadeia da carnaúba, com a participação de agricultores e extratores do pó cerífero. Além de orientar sobre o manejo da palha e a segurança no trabalho, esse processo contribui para valorizar o extrativismo e vai resultar em um material que será entregue à Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima e às próprias comunidades”, destacou.

Durante as formações, realizadas ao longo de um dia inteiro em cada localidade, os participantes discutiram temas essenciais para o fortalecimento da atividade, como políticas públicas de assistência social e de financiamento, técnicas de rastreabilidade, uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), características da trepadeira invasora conhecida como unha-do-diabo e sistemas agroflorestais (SAFs) em áreas de carnaubais. Além disso, os trabalhadores debateram sobre os desafios que ainda dificultam a rotina de quem atua na cadeia da carnaúba.

Segundo Cássia Pascoal, coordenadora de Relacionamento Comunitário e Educação Ambiental da Associação Caatinga, as oficinas representam um avanço no diálogo com as comunidades e na qualificação do trabalho realizado no campo. “Essas oficinas têm o objetivo de qualificar o extrativismo da carnaúba e os produtos finais obtidos a partir dessa atividade. Além disso, buscamos fortalecer a autonomia das comunidades, ampliar o acesso à informação e aproximar essas pessoas das políticas públicas que podem melhorar suas vidas.

Ibuaçu Velho e Ubatuba estão inseridas em uma região marcada por extensos carnaubais que sustentam parte da atividade produtiva local. Granja, inclusive, é reconhecida como o maior produtor de cera e pó de carnaúba do País, o que reforça a importância econômica dessas comunidades para a cadeia produtiva.

A voz da comunidade

A participação ativa dos moradores durante a formação evidenciou a importância da troca de saberes e da valorização dos trabalhadores da base da cadeia produtiva. Em Ubatuba, o agricultor Benedito Rocha enfatizou que ações como essa evidenciam a importância dos trabalhadores que atuam nas etapas iniciais da cadeia da carnaúba. “O pessoal veio aqui explicar como a gente deve trabalhar e eu achei que a gente merece essas melhorias. Estou aqui desde manhã cedo para participar da oficina e estou achando ‘joia’ porque essas informações são muito importantes para nós”, afirmou.

Benedito atua como aparador de palha, função que consiste em cortar as folhas que são derrubadas das carnaúbas durante o processo de extração e organizá-las em feixes, etapa fundamental para que o material siga para a secagem e, posteriormente, para a produção do pó que dará origem à cera. Porém, apesar de realizar uma função essencial e de conhecer o trabalho no campo, ele nunca viu o beneficiamento final da palha.

“Eu ‘ajunto’ a palha e boto no feixe e depois jogo no lastro. Aí fazem lá o pó e eu não sei nem para onde vai. Nunca vi a fábrica de cera. Me falaram que aqui em Granja tem uma, mas eu nunca vi. Tenho vontade de ir lá alguma vez para conhecer, para entender como um pó fino fica uma cera parecida com uma rapadura”, relatou Benedito.

A agricultora Alexandra Alves, de Ubatuba, que há dez anos trabalha na cadeia produtiva da carnaúba, também aprovou a formação e destacou o sentimento de inclusão. “Eu achei a oficina ótima. Era só eu de mulher na turma, era mais homem, mas eu achei ótima. Trouxe coisas que eu ainda não sabia e aprendi aqui hoje. Espero que outra vez tenha novas oficinas dessas. Falaram da trepadeira unha-do-diabo e gostei de saber mais sobre esse tema”, comentou.

Após os relatos de Benedito e Alexandra, a coordenadora Cássia Pascoal acrescentou que as falas revelam necessidades que vêm sendo apontadas pelas próprias comunidades. Ela explicou que, embora a Associação Caatinga desenvolva ações voltadas à carnaúba desde 2016, “o Caatinga Preservada é um dos primeiros projetos da instituição direcionado especificamente às comunidades carnaubeiras do entorno do Parque Estadual das Carnaúbas, em Granja”.

Segundo Cássia, o diagnóstico socioambiental, elaborado para o Manual de Boas Práticas, foi realizado antes das formações para mapear os desafios das comunidades de Granja. Ela destacou que o diagnóstico contribuiu para as oficinas, que inauguraram um novo ciclo de trabalho nas localidades e vão subsidiar decisões sobre futuras ações, incluindo demandas manifestadas pelos participantes, como o desejo de conhecer o processo industrial e a necessidade de ampliar a participação feminina.

Já na comunidade de Ibuaçu Velho, o presidente da associação local, David Gomes, também avaliou a formação como um avanço para o trabalho realizado no município. Ele afirmou que a oficina reforçou práticas já conhecidas, mas trouxe orientações que podem aprimorar a organização da produção.

“A oficina de hoje foi de fundamental importância. A gente viu coisas que já sabia, mas também aprendeu bastante coisa nova e quanto mais a gente entende o processo, mais consegue melhorar a produção”, disse David. Ele destacou ainda que a orientação sobre manejo fortalece a autonomia da comunidade. “É importante que a gente mesmo tire o nosso carnaubal, porque essa renda fica aqui, com os moradores”, finalizou.

O Projeto Caatinga Preservada

As oficinas integram apenas uma das ações do projeto “Caatinga Preservada: ampliando e melhorando a gestão das UCs na Caatinga Cearense”, que é realizado pela Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA/CE) em parceria com a Associação Caatinga e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) no âmbito do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO como agência executora.

O projeto tem como propósito ampliar e qualificar a gestão de áreas legalmente protegidas no bioma Caatinga no Ceará, com foco nas regiões dos Sertões de Canindé e Tejuçuoca, além das encostas da Ibiapaba nos municípios de Viçosa do Ceará, Granja e Pacujá, que apresentam índices preocupantes de desmatamento acumulado. Por isso, o projeto reúne ações que abrangem desde a criação de novas Unidades de Conservação até a melhoria da gestão do Parque Estadual das Carnaúbas, incluindo a elaboração de um plano de visitação, a instalação de placas informativas e a produção de um manual de boas práticas para o manejo florestal e para a extração de palha e de pó de carnaúba.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

TOP UP PATROCINA NOITE DE SOLIDARIEDADE NA GRANDE CEIA DE NATAL DO MONTE CASTELO

Foto divulgação A Praça João Pontes, no Monte Castelo, viveu uma noite de emoção e solidariedade com a realização da Grande Ceia de Natal – ...