Na
vanguarda da tecnologia, os cartórios brasileiros seguem avançando nos serviços
digitais ofertados ao cidadão. Somente na plataforma E-Notariado, já são 73
milhões de usuários. Esse foi um dos temas do “II Encontro Notarial e Registral
Cearense”, encerrado no último sábado com mais de 300 participantes. Sobre o
evento, que reuniu autoridades locais e nacionais no hotel Vila Galé, na Praia
do Futuro, compartilho uma sugestão de pauta.
Serviços
digitais no E-Notariado, plataforma para atos notariais dos cartórios, já conta
com 73 milhões de usuários cadastrados
A
tecnologia é um caminho sem volta e os cartórios brasileiros, instituição mais
confiável nas três últimas pesquisas do Datafolha, têm avançado no modelo
digital para continuar atendendo com segurança e mais eficiência às demandas do
cidadão. Com 73 milhões de usuários cadastrados na plataforma E-Notariado, os
números do setor tiveram destaque durante o II Encontro Notarial e Registral
Cearense, que abordou neste ano o tema “Inovação e Tecnologia: Integração na
Atuação do Extrajudicial”. E para marcar essa linha do tempo, que teve início
na pedra, passando pelos papiros, pergaminhos e papel, até chegar na
digitalização, foi lançado na abertura do evento, sexta-feira (21), o primeiro
episódio do documentário “Primeiros Registros e Sua Evolução”, com direção de
Roberto Bonfim e fotografia de Eduardo Barros.
Instrumento
para a prática dos atos notariais digitais e considerada a mais importante, a
plataforma do E-Notariado teve o cuidado de ser acessível para todos os
tabeliães no país, e não apenas para os cartórios grandes e com tecnologia de
ponta. Por isso, a internet e o computador são o único meio para estar
conectado nesse serviço que teve início na pandemia da Covid-19. Segundo a
presidente do Colégio Notarial do Brasil (CNB), Giselle Oliveira de Barros,
palestrante convidada da Associação dos Notários e Registradores do Ceará
(Anoreg-CE) e Sindicato dos Notários, Registradores e Distribuidores do Estado
do Ceará (Sinoredi-CE), organizadores do evento, “o E-Notariado foi a forma que
encontramos para manter a segurança jurídica dos nossos atos, mas também para
atender a modernização e a transformação do mundo.”
Outras
plataformas que vieram para facilitar também a vida dos notários, registradores
e do cidadão são o Centro Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados
(CENSEC), que desde 2012 unifica dados de atos notariais realizados no país; o
Apostil, um sistema eletrônico de apostilamento que pertence ao Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e é gerido pelo cartório de Notas desde 2021,
colocando o Brasil como um dos primeiros países no mundo com a apostila
eletrônica; e a Central Única de Clientes do Notariado (CCN), esta já somando
os 73 milhões de usuários cadastrados desde 01 de outubro de 2019. “Dentro do
que a gente construiu para praticar os atos eletrônicos, existe também a
emissão de Certificado Digital Notarizado, que é gratuito”, ressaltou a
presidente do CNB.
Outro
tema em destaque foi sobre a “Atuação do IRTDPJ Brasil no Marco Legal das
Garantias”, que teve como palestrante Rainey Marinho, presidente do Instituto
de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil. Ele
destacou o primeiro provimento estadual regulamentado pela Corregedoria Geral
da Justiça do Estado de Alagoas, no último dia 4 de junho, sobre o procedimento
de busca e apreensão extrajudicial. “A medida vem na vanguarda das demais
corregedorias estaduais e esse normativo representa um marco importante para a
legislação e prática judiciária do estado e do Brasil”, refletiu. Marinho
pontuou, ainda, que todo o país ainda aguarda a regulamentação pela
Corregedoria Nacional de Justiça, que dará o norte necessário para todos os
cartórios do RTD.
A
troca de conhecimento durante o “II Encontro Notarial e Registral Cearense”,
com programação que se estendeu por todo o sábado (22), foi marcada também por
falas importantes, como a do presidente do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE),
desembargador Abelardo Benevides Moraes. Convidado para a palestra magna de
abertura, ele ressaltou que "hoje, estamos trabalhando com Inteligência
Artificial. Temos mais de 40 robôs no tribunal. E o Conselho Nacional de
Justiça divulgou vários dados de 2023 sobre o assunto e o primeiro lugar com
projetos em andamento é o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - baseado
nos números de 2023. Lá, são 12 projetos de Inteligência Artificial, seguido
pelo Ceará, com 7 projetos. Em terceiro, está São Paulo, com 6", mostrando
que todos os entes precisam acompanhar as mudanças tecnológicas que avançam no
mundo todo.
"Nesse
ano de 2024, já chegamos a 10 projetos de Inteligência Artificial. Não vai
existir a figura do robô juiz, do robô notário, do robô escrevente. Isso não
existe. Mas ela (a Inteligência Artificial) está para nos ajudar. Temos várias
dessas práticas (funções programadas pela IA), como o agrupamento, a exemplo de
1.000 processos da mesma natureza. Antes, o servidor ficava procurando um por
um. Agora o robô, em alguns minutos, agrega esses documentos e afirma que tem
mil documentos da mesma natureza", revelou o desembargador. Abelardo
Benevides de Moraes encerrou o primeiro dia de evento, na sexta-feira (21),
discorrendo sobre o tema “O Papel do Poder Judiciário nos Avanços Tecnológicos
para Fins de Integração com a Atividade Extrajudicial”
Responsável
por dados digitais na presidência da República (2015-2017), consultor de vendas
digitais do Banco do Brasil, FIESP, Mercedes, Microsoft, Itaú, Bradesco, Caixa,
Disney e diversas empresas, o sociólogo Renato de Carvalho Dolci falou sobre
“As novas ferramentas do protesto e suas utilizações digitais - Resolve,
Solução Negocial Prévia e Intimação Eletrônica”. Sua facilidade em lidar com
dados, o fez criar um portal de protesto, chamado Resolve. “Identificamos R$
817 bilhões a serem recuperados dentro da base dos cartórios no intervalo de
2015 a 2024. Desse total, R$ 589 bilhões são de dívidas da União. Ou seja, o maior
credor é o governo. Ele representa 70% do total. O percentual de pessoas
inadimplentes no Brasil também chega nesse patamar. Dolci acrescentou que as
pessoas não sabem que estão protestadas e não sabem também o que é o protesto.
Sua tecnologia prevê um aumento de 30% nos pagamentos dos protestos on-line.
Especialista
em Registros Públicos no Brasil e presidente da Seção de Direito Público do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), o desembargador Ricardo
Henry Marques Dip encerrou o evento no sábado com a palaestra magna sobre
“Análise sobre as gratuidades e o equilíbrio econômico-financeiro do Registro
Civil de Pessoas Naturais”. Segundo o magistrado, "todos sabem o que é
gratuidade, pois ela parece simples. Mas só isso. Tanto é assim, que até agora
não conseguimos resolver. Ela tem uma certa complexidade que nem sempre nós
conseguimos reconhecer. Vamos iniciar no diálogo um debate sério do ponto de
vista doutrinário para enfrentar e tentar resolver esse problema da gratuidade
que, até agora, não se resolveu", mostrando que está atento à essa demanda
antiga dos registradores civis.
O
desembargador paulista disse, ainda, que "de bananas entendem os
agricultores e de café, os cafeicultores. Mas quem mais entende de notas e
registros são os notários e os registradores", arrancando aplausos da
plateia com essa afirmação. Para o presidente da Associação dos Notários e
Registradores do Ceará (Anoreg-CE), Cícero Mazzutti, “o doutor Dip trouxe algo
que não é novo e nem tecnológico, mas que atinge a categoria e abre discussão
sobre o excesso de gratuidade que atinge a atividade. Existe uma falta de
compreensão ao serviço prestado nos atos gratuitos”. Em sua fala, o presidente
do Sindicato dos Notários, Registradores e Distribuidores do Estado do Ceará
(Sinoredi-CE), Denis Bezerra, acrescentou que “estamos todos comprometidos com
a excelência do serviço notarial e registral e que o debate foi importantíssimo
para o nosso desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional.”
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