Baseado
em textos e relatos da filósofa, Helena Theodoro, que reflete e celebra sobre o
papel fundamental e sagrado da mulher negra, o espetáculo “Mãe de Santo”
desembarca no Nordeste pela primeira vez. Na capital cearense, a montagem será
apresentada no dia 16 de junho, no Teatro São José, como parte da Solenidade de
Abertura Oficial do XV Festival de Teatro Fortaleza, que é uma realização
Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), em parceria com o
Teatro Novo. Com atividades em vários espaços da capital cearense, o FTF terá
programação a partir do dia 10 e seguirá até 21 de junho, com acesso gratuito.
Ressignificar
e enaltecer o poder da mulher preta na condução de suas comunidades é o grande
mote do monólogo “Mãe de santo”. A montagem já diz a que veio ao escalar Vilma
Melo, primeira atriz negra a vencer o Prêmio Shell (2017), para interpretar uma
e, ao mesmo tempo, várias mulheres pretas. No Rio de Janeiro, o monólogo já
passou pela Casa de Cultura Laura Alvim, Teatros Ipanema e Glauce Rocha. Além
da temporada carioca, o espetáculo se apresentou no Festival Mindelact, que
acontece há 22 anos, em Cabo Verde, no FESTIVAL FESTIJ, em Angola, e no Teatro
da Cia do Chapitô, em Portugal.
A peça
“Mãe de santo” traz um posicionamento firme e de orgulho das histórias contadas
e passadas por gerações e documentando como as mulheres afrobrasileiras são
diálogos, corpos sagrados e que utilizam o homem como complemento de suas
narrativas e vivências. Com direção geral de Luiz Antonio Pilar, o espetáculo
foi escrito pela autora teatral Renata Mizrahi a partir de textos e relatos da
filósofa, escritora e professora Helena Theodoro, que celebrou seus 80 anos em
2023.
“Mãe
de santo representa pra mim as mil possibilidades da mulher preta, que dá asas
à imaginação, mostrando musicalidade, poesia, espiritualidade, habilidade e
maternidade desde muito tempo. Ser mãe de santo é ser mãe do mundo, cuidando de
gente de ontem – seus ancestrais – ou de hoje – sua família, amigos, parceiros
–, preservando o mundo para um amanhã mais pleno, transformado pelo elo de
afeto entre as pessoas, pela arte e por toda a beleza que um olhar doce e meigo
pode oferecer. Mãe de santo é mulher que se orgulha de suas histórias e
identidades, entendendo que nada é mais profundo do que a pele preta que traz
em seu corpo e ilumina sua alma”, afirma Helena Theodoro.
“Mãe
de santo” é para além do arquétipo, das vestimentas e acessórios
característicos da religião. O espetáculo mostra que essas mulheres também
vivenciam o particular – carregam tristezas, perdas, felicidades, medos,
angústias e papéis importantes na sociedade. Apesar de estereotipadas, essas
figuras religiosas são plurais e, muitas vezes, não recebem o acolhimento de
que necessitam. Mas, mesmo assim, ressignificam suas histórias em prol do viver
individual e do coletivo existentes nas comunidades que lideram. Com “Mãe de
santo”, a atriz Vilma Melo foi indicada aos prêmios APTR 2022 e Shell 2023 na
categoria “Melhor Atriz”.
“Esse
espetáculo é a expressão da minha felicidade e do meu compromisso com nossa
ancestralidade. Um projeto que nasce em 2018, após a descoberta do Alzheimer da
minha avó materna Maria (que é mãe de santo) e da reconexão com a minha fé, que
me permitiu vislumbrar esta montagem trazendo à cena histórias de tantas
mulheres que admiro, que me inspiram e me orientam”, revela o idealizador e
produtor Bruno Mariozz.
No
traço da materialidade, as mães podem ser vistas como depósitos para
desenvolvimento de outros seres. Elas geram, criam e educam com o intuito de
integrar a sociedade. Já na não materialidade, a mulher é cabaça, que contém e
é contida por representar a vida. A ancestralidade dessas mulheres pretas
empodera o cotidiano, os estudos, a família, a carreira profissional, a posição
social, e ainda fortalece o enfrentamento do racismo diário.
Sinopse:
“Mãe
de Santo" chama a atenção do olhar com os olhos de ver. A peça é baseada
nas vivências da filósofa, escritora e professora Helena Theodoro e de outras
mulheres, como a própria atriz que a interpreta, Vilma Melo, por meio de uma
personagem muito empoderada, que, ao dar uma palestra internacional, entrelaça
as histórias, provocando sobre o que realmente interessa contar e mostrar. O
que se espera de uma mulher que nunca foi uma coisa só? Mãe, professora,
empregada, mãe de santo, estudante. Quantas histórias cabem em uma única vida?
Sobre
Helena Theodoro
Bacharel
em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mestra em Educação pela UFRJ e doutora em
Filosofia pela Universidade Gama Filho. Em 2019, terminou o pós-doutorado no
IFCS/UFRJ /PPGHC (Programa de Pós-graduação em História Comparada). Foi
presidente do Conselho Deliberativo do FUNDO ELAS e coordenadora do Comitê
Pró-equidade de Gênero, Raça e Etnia da Casa da Moeda do Brasil até junho de
2016.Atuou como professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá, tendo sido
coordenadora da Pós-graduação de Figurino e Carnaval da Universidade Veiga de
Almeida (UVA), de 2010 a 2015. Participou da comissão julgadora nas edições de
2011, 2012 e 2013 do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, produzido
pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de
Janeiro/Cojira-Rio. Foi vice-presidente do Conselho Estadual dos Direitos do
Negro – CEDINE. Exerceu a vice-presidência do Fundo ELAS, de 2008 a 2015, tendo
sido jurada do Estandarte de Ouro do jornal O Globo durante 27 anos. Coordenou
o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) da FAETEC de 2008 a 2013. Escreveu
os livros “Mito e Espiritualidade: Mulheres Negras” (1996), “Os Ibéjis e o
Carnaval” (2009), “Caderno de Cultura Afro-brasileira” (2009), “Iansã, rainha
dos ventos e tempestades” (2010) e “Martinho da Vila - Reflexos no Espelho”
(2018).
Sobre
Vilma Melo
Professora,
atriz com atuações em teatro, cinema e televisão. No teatro, ganhou o Prêmio
Shell de Melhor Atriz por "Chica da Silva", em 2017 – primeira mulher
negra a conquistar a categoria de melhor atriz no Prêmio Shell; o Prêmio Cenym
de Melhor Atriz Coadjuvante em "A Vida de Billie Holliday"; Prêmio
Aplauso Brasil de Melhor Elenco em "Fulaninha e Dona Coisa"; e Prêmio
de Melhor Atriz Coadjuvante do Festival de Teatro de Campos por "O Romance
do Pavão Misterioso". Indicada aos prêmios CBTIJ e Botequim Cultural como
Melhor Atriz por "Marrom, Nem Preto, Nem Branco?" e ao Prêmio
Cesgranrio e Botequim Cultural como Melhor Atriz por "Chica da
Silva". No cinema, fez os longas "Três verões", de Sandra Kogut
e Regina Casé; "Campo Grande", de Sandra Kogut; "Selvagem",
de Diego da Costa (a estrear) e "Reação em cadeia", de Márcio Garcia.
Na TV, fez a série "Segunda chamada", da TV Globo; a quarta temporada
de "PSI", da HBO; "Baile de máscaras", do Canal Brasil;
"Teatro no ato", direção de João Falcão, do Arte 1 (a estrear); e
"Cinema de enredo", do Prime in Box. Fez parte do júri do Prêmio
CBTIJ de Teatro para Infância e Juventude 2020.
Sobre
Luiz Antonio Pilar
Diretor
de teatro, televisão e cinema. Formado bacharel em Artes Cênicas,
especialização de direção teatral, pela UniRio, em 1990. Com grande experiência
em televisão, dirigindo as novelas "Desejo proibido", "Sinhá
Moça", "A padroeira" na TV Globo; "Xica da Silva",
"Brida", "Mandacaru", e "Tocaia Grande" na extinta
TV Manchete. No cinema, dirigiu “Lima Barreto, ao terceiro dia”, o documentário
“Candeia” e o curta-metragem, "A mãe e o filho da mãe". Venceu o 13º
Festival de Curtas do Rio de Janeiro e, como prêmio, representou o Brasil no
Festival de Cinema de Angérs, França. Em parceria com a produtora Lapilar, o
Canal Futura e a TV Globo, desenvolve o projeto “A cor da cultura” (conjunto de
programas voltados para temática negra, em cumprimento a determinação da Lei
10.639). Em 1993, fundou sua produtora, realizando projetos de sucesso de
temática afrobrasileira como o espetáculo teatral "Os negros", de
Jean Genet.
Ficha
técnica
Argumento:
Helena Theodoro. Texto: Renata Mizrahi. Com: Vilma Melo. Direção: Luiz Antonio
Pilar. Trilha sonora original: Wladimir Pinheiro. Direção de produção: Bruno
Mariozz. Cenário e Figurino: Clívia Cohen. Instalação de Turbantes: Renata
Mota. Iluminação: Anderson Ratto. Visagismo: Késia Lucas. Programação visual:
Patricia Clarkson. Design gráfico e comunicação: Rafael Prevot. Produção
executiva: Walerie Gondim. Idealização: Bruno Mariozz e Vilma Melo. Produção e
realização: Palavra Z Produções Culturais.
SERVIÇO
XV
Festival de Teatro de Fortaleza (FTF) - De 10 a 21 de junho de 2024 em espaços
culturais de Fortaleza. Informações: curadoria.xvftf@gmail.com. Rede Social:
@festivaldeteatrofortaleza
Vídeo
- Trecho do espetáculo:
https://drive.google.com/drive/folders/1WuFrD27JADPPoSFQlDUkjdIPdxKvXTAY
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