A
terceira edição do Fotofestival Solar segue com programação vasta e
diversificada na rede de equipamentos culturais do estado. O segundo dia de
evento foi marcado pela realização de oficinas, conversas, exibição de filme e
visitas mediadas às exposições. Com a proposta de interligar a fotografia a
outras expressões artísticas, o Fotofestival Solar segue até domingo (15), com
programação totalmente gratuita.
Oficinas
As
atividades desta quinta-feira (12) tiveram início na Kuya - Centro de Design do
Ceará, com a oficina “Quero dizer do mistério”, que busca realizar a construção
coletiva de um fotolivro a partir do álbum LEGAL, de Gal Costa, lançado em
1970, durante a ditadura militar. O artista Régis Amora, um dos responsáveis
por ministrar a atividade, destacou o papel político da oficina.
“O
Solar traz para essa edição um posicionamento político muito forte. É preciso
redescobrir e reacender a democracia. Nesse sentido, as oficinas têm um papel
muito importante para aproximar o público e permitir que a gente construa
juntos. No nosso caso, ao final da oficina, teremos uma publicação que vai
circular e que vai mostrar o nosso posicionamento”, ressaltou Régis Amora.
Marília
Oliveira, curadora e também responsável pela oficina, salienta que a sessão
prática realça a importância do intercâmbio da fotografia com outras expressões
artísticas. “Aqui vamos pensar a relação rítmica entre a música e a fotografia,
pensando como essas duas linguagens podem se encontrar a partir do álbum da Gal
Costa. Nós tivemos, inicialmente, uma experiência sonora e uma leitura de capas
de álbuns. A partir disso, vamos construir o fotolivro que será publicado ao
final da oficina”, disse ela.
Um dos
participantes da oficina é o estudante João Ferreira, que revela ter sido
atraído pela proposta de realizar um trabalho de fotografia coletivo. “Eu busco
expandir minhas vivências e minha experiência com a fotografia. Poder trabalhar
algo em coletivo, que é uma das propostas dessa oficina, acabou por me atrair e
despertar minha vontade e curiosidade, então vim participar”, contou.
Além
da Kuya, a Pinacoteca do Ceará recebeu duas oficinas na manhã desta
quinta-feira. A oficina “Edição e Incisão” foi ministrada pelo fotógrafo e
editor de origem mexicano-peruana, Musuk Nolte. A atividade, que conta com 10
participantes, trouxe a proposta de edição criativa, com a produção de um
fotolivro a partir de imagens trazidas pelos próprios participantes.
Musuk
Nolte falou sobre o diferencial da oficina. “Eu proponho perguntas, apresento
questionamentos e, a partir das experiências individuais, proponho uma
sequência de imagens. Facilito o entendimento desses projetos que os
participantes trazem e eu proponho estratégias de editoração e de edição de um
fotolivro”.
Já a
oficina “Um futon solar” discutiu o amor, a generosidade e o carinho por meio
da construção de um futon, uma manta, uma realização coletiva de 15 pessoas. O
artista visual Shinji Nagabe, responsável por ministrar a oficina, enfatizou a
necessidade de abordar o amor e o carinho. “Eu sou brasileiro de origem
japonesa e minha mãe era costureira. Minha melhor lembrança de afeto, carinho e
dedicação são os retalhos que ela trazia do trabalho para fazer um futon. Hoje
eu trago a proposta de uma peça colaborativa que fale sobre amor e carinho, já
que o mundo está tão difícil. A gente tá falando sobre cada imagem e a sensação
que cada uma delas traz”, frisou o artista visual.
O
fotógrafo Ricardo Takagawa, integrante da oficina, reconhece o Fotofestival
Solar como uma importante iniciativa para promover trocas entre os
participantes. “É muito interessante o Solar proporcionar essas oficinas. Além
de cada oficina, nós temos o contato com outras pessoas e uma troca de
experiências que é muito rica e todos estão de parabéns!”.
Já
pela tarde, a programação foi de Conversasi no auditório do KUYA - Centro de
Design, com o Cinelivro Post-apartheid - Fotolivros africanos e os 30 anos do
fim do Apartheid, com Ana Vitorio e Vitor Casemiro.
Para
Vitor Casemiro, a sua pesquisa e fotografia, o
Cinelivro, parte muito do cinema, primeiramente. “Em algum momento eu
entendi que é muito difícil alguns livros chegarem até o Brasil, são caros.
Então, eu passei a consumir o fotolivro através de vídeos. E, quando eu
percebi, já tinha uma biblioteca online de quase 300 livros, divididos em
playlists. Para hoje, selecionamos 8 livros que contextualizam os 30 anos da
democracia sul africana, não só recente, mas livros clássicos que documentam
esse registro do Apartheid”, disse.
Ana
Vitorio expressou sua satisfação ao saber que este seria o tema do evento. “Considero
de suma importância começarmos a nos aproximar mais da produção africana de
fotolivros, especialmente a sul-africana, que é vastíssima desde os anos 60.
Estamos muito felizes por ter a chance de falar sobre algumas dessas obras e
por estar aqui novamente. Eu acredito que festivais de fotografia são
extremamente relevantes; saímos deles cheios de ideias, novos contatos e
inspirações. São esses festivais que fomentam a nossa produção cotidiana.”
Durante
a conversa foi apresentada uma reflexão sobre como a temática do apartheid é
abordada em obras literárias e fotográficas, com foco na aposta no
autobiográfico como uma maneira de explorar questões políticas e sociais. Ana
Vitorio destacou que os fotógrafos revisitam o passado de maneira marcante, evidenciando
essa abordagem nas publicações.
Ainda
na Kuya, aconteceu a conversa sobre “O nome das coisas”, com Diógenes Moura,
Noemi Jaffe e José Manuel Diogo, com mediação de Joca Reiners Terron. Em
diálogo sobre a exposição “Ali onde as palavras são os nomes das coisas”, de curadoria de Diógenes Moura, a conversa
iniciou sobre a relação entre a imagem e a palavra, que movimentam diálogos,
tensões, precipitações e ressonâncias. A mostra tem como ponto de partida o projeto
“200 anos, 200 livros”, uma iniciativa que lançou-se ao desafio de elaborar uma
lista com os títulos mais importantes para entender o país.
Na
ocasião, o português José Manuel Diogo, idealizador do projeto "200 anos,
200 livros”, que fez um levantamento das obras realizadas por 169 intelectuais
da língua portuguesa, contou que a seleção dos livros é uma ideia de origem
muito particular. “Procuramos entender que Brasil é esse, sua etnia. Fizemos
várias descobertas sobre o Brasil”, disse.
Diógenes
Moura, por sua vez, explicou que, desde o início, as mesas da exposição “Ali
Onde as Palavras São os Nomes das Coisas”, foram concebidas para que o
visitante pudesse sentar e passar alguns minutos com os livros. “Selecionamos
80 livros, e esse número está distribuído de forma que o visitante precise se
deslocar pelo espaço da exposição. Decidimos também que todos os livros teriam
uma capa transparente, para evitar uma variedade excessiva de elementos
visuais”.
Ao
final da conversa, Diógenes analisou algumas imagens de livros e legendas
exibidas na exposição, explicando os motivos por trás da escolha de cada uma.
Enquanto
isso, na Pinacoteca do Ceará, a programação incluiu a leitura de maquetes de
fotolivros, a exibição do filme Senhora das Flechas, um documentário sobre
Claudia Andujar. Teve também visitas mediadas às exposições Que País é Esse?,
com Jorge Bodanzky e Thyago Nogueira, e Claudia Andujar - Minha Vida em Dois
Mundos, conduzida por Eduardo Brandão.
Sobre
o Fotofestival SOLAR
A
primeira edição do SOLAR ocorreu em dezembro de 2018 e ocupou diversos espaços
do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com atividades formativas e cinco
exposições, com convidados nacionais e internacionais. A segunda edição, que
ocorreria em dezembro de 2020, foi cancelada devido à pandemia de Covid-19.
Nesse intervalo, o SOLAR esteve presente na Bienal Internacional do Livro do
Ceará, em 2019. Em 2020, integrou a idealização do projeto “Por dentro de um
tempo suspenso”, realizado em parceria com outras iniciativas nacionais, como o
Fotorio, o Festival de Fotografia de Tiradentes e a DocGaleria. Em 2021,
articulou a itinerância da exposição Terra em Transe, concebida pelo SOLAR em
2018, com curadoria de Diógenes Moura, para o Museu Afro Brasil, em São Paulo,
onde recebeu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA de
melhor Exposição de Fotografia do ano.
A
semana de abertura da segunda edição do Fotofestival SOLAR ocorreu de 7 a 11 de
dezembro de 2022, e reuniu fotógrafos, pesquisadores, curadores, artistas e o
público em geral, em uma ampla programação gratuita. Além de realizar
atividades de formação, apresentação de portfólios, projeções e debates, o
SOLAR contou com exposições em diferentes espaços do Complexo Cultural Estação
das Artes — Pinacoteca do Ceará, Centro de Design, Estação das Artes e Mercado
AlimentaCE — e do Museu da Imagem e do Som do Ceará, instituições que integram
a RECE, geridas em parceria com o Instituto Mirante. As ações seguiram até maio
de 2023. Esta parceria reforça a atuação
em rede dos equipamentos culturais do Estado, trazendo ainda mais impacto às
iniciativas e aumentando o alcance e a diversidade de públicos.
Em
2022, além das 7 exposições, ocorreram 15 mesas, 8 oficinas, apresentação de
portfólios com premiação, apresentações culturais e lançamentos de livros. Ao
longo do período de exibição, foram realizadas várias visitas mediadas aos
espaços expositivos. Para marcar o encerramento da exposição Negros na Piscina,
entre 24 e 29 de abril de 2023, a Pinacoteca do Ceará realizou um seminário com
participação de curadores, artistas e pesquisadores, além de uma oficina de fotografia
documental, em parceria com a Escola Porto Iracema das Artes. Na Estação das Artes, aconteceu a festa Baile
Preto.
O
SOLAR contou com 60 convidados nacionais e internacionais, entre eles a
espanhola Cristina de Middel, diretora da Agência Magnum; o nigeriano Azu
Nwagbogu, diretor da Africa Artists Foundation; e a mexicana Graciela Iturbide,
um ícone da fotografia latino-americana e mundial. Além desses convidados,
houve a participação de, aproximadamente, 300 pessoas que também atuaram de forma
remunerada, direta e indiretamente, na realização do SOLAR, profissionais de
diversas áreas do campo cultural, como produção, comunicação, curadoria,
montagem, educação, transporte, entre outras.
Estima-se
que, de dezembro de 2022 a maio de 2023, as ações realizadas pelo Fotofestival
SOLAR impactaram, diretamente, um público de 65 mil pessoas. A maior parte das
ações de formação foi transmitida online pelo canal do YouTube do SOLAR, da
Pinacoteca e da Secretaria da Cultura do Ceará. As atividades contaram com a
presença de intérpretes de Libras, tornando o evento mais acessível para
diversos públicos. Nesse período, foram alcançadas 2.125 visualizações. Os
vídeos seguem disponíveis e podem ser acessados gratuitamente no canal do
Fotofestival SOLAR.
SERVIÇO
Fotofestival
SOLAR 2024
Quando:
de 11 a 15 de dezembro de 2024
Horários
de Funcionamento
ACESSO:
Gratuito. Livre.
Confira
a programação completa:
https://solarfotofestival.com
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