quinta-feira, 13 de novembro de 2025

AGRICULTURA FAMILIAR

Foto : Tamires Copp

À medida que o Brasil se prepara para sediar a COP30, em novembro, em Belém (PA), o campo brasileiro busca se posicionar no debate sobre clima e sustentabilidade. A agricultura familiar, que responde por cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa da população, tem se tornado protagonista da transição ecológica no país, aliando práticas sustentáveis, inovação social e acesso ao microcrédito rural.

Nos últimos anos, o agro brasileiro — da agricultura familiar aos grandes produtores — passou a se enxergar como parte da solução para a crise climática. Segundo representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agro deve aproveitar a COP30 para mostrar que é possível produzir mais com menos impacto ambiental, conciliando produtividade e preservação. Essa visão é reforçada por especialistas e instituições de pesquisa, que defendem um novo modelo de desenvolvimento rural baseado na agroecologia, na bioeconomia e no fortalecimento da agricultura familiar.

Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) mostram que mais de R$ 1 bilhão foram destinados recentemente à expansão do microcrédito rural, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. O recurso tem sido essencial para que pequenos produtores invistam em irrigação eficiente, compostagem, painéis solares e recuperação de nascentes, práticas que reduzem custos e aumentam a resiliência diante das mudanças climáticas. De acordo com o engenheiro agrônomo André Marchetti, consultor técnico da Cactvs, instituição de pagamento credenciada a operacionalizar o microcrédito rural da Caixa Econômica, “o acesso ao financiamento simplificado tem permitido que agricultores familiares façam a transição para sistemas produtivos mais limpos e rentáveis, fortalecendo a segurança alimentar e a sustentabilidade local”.

O Pará é o estado com maior número de contratos, totalizando 47% das operações, seguido por Amazonas (23%), Acre (18%), Amapá (8%), Roraima (2,4%) e Tocantins (2%).

A importância dessas práticas é cada vez mais evidente. Um levantamento da Rede CI Orgânicos mostra que o número de propriedades com produção orgânica cresceu 150% nos últimos 12 anos, enquanto dados da SuperHiper apontam que as vendas de produtos orgânicos aumentaram 5,2% em 2024. Esses números refletem não apenas uma mudança de comportamento do consumidor, mas também o avanço das políticas de incentivo à agroecologia no campo.

Projetos como os Quintais Produtivos, coordenados pela Fiocruz Brasília, mostram na prática como sustentabilidade, renda e saúde podem caminhar juntas. A iniciativa beneficia 480 agricultoras e agricultores familiares em 11 estados e no Distrito Federal, promovendo o cultivo agroecológico de plantas medicinais e alimentos em áreas de aproximadamente 2.500 m². O projeto une produção orgânica, bioeconomia e fortalecimento da assistência farmacêutica, integrando a agricultura familiar ao Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a Fiocruz, a iniciativa tem gerado impacto direto na diversificação de renda, ampliação da segurança alimentar e valorização do conhecimento tradicional.

Mesmo com avanços expressivos, os desafios climáticos se intensificam. Em várias regiões do Semiárido, o aumento da temperatura média e a irregularidade das chuvas têm reduzido a produtividade de culturas tradicionais, como feijão e milho, base da agricultura familiar. Estudo da Agência Pública mostra que a perda de fertilidade dos solos e o desequilíbrio hídrico já comprometem a renda de milhares de pequenos produtores.

Esse cenário reforça a necessidade de políticas integradas de mitigação e adaptação, capazes de garantir crédito produtivo orientado, capacitação técnica e infraestrutura para a produção sustentável. O fortalecimento de programas de microcrédito rural e assistência técnica é essencial para que o agricultor familiar possa investir em irrigação eficiente, recuperação de nascentes e manejo agroecológico do solo.

Para o André Marchetti, o Brasil vive um momento decisivo. “O país tem condições únicas de liderar a agricultura sustentável no mundo tropical. Temos biodiversidade, conhecimento técnico e uma agricultura familiar que já pratica o equilíbrio entre produção e preservação. O desafio agora é ampliar o acesso a crédito, assistência e tecnologia para que esse modelo se torne dominante”, avalia. Segundo ele, o sucesso desta transição depende de políticas integradas que combinem financiamento, educação ambiental e valorização das práticas tradicionais do campo.

As experiências locais de cooperativas agroecológicas têm mostrado que o acesso a recursos financeiros, quando aliado à assistência técnica e à educação ambiental, pode transformar a realidade do campo. De forma silenciosa, milhares de famílias rurais estão modernizando suas propriedades, diversificando culturas e se tornando agentes da sustentabilidade.

Com a COP30 se aproximando, o Brasil chega ao centro das discussões climáticas com um diferencial: uma base produtiva diversificada, conectada às comunidades e guiada por práticas sustentáveis. No campo, a agricultura familiar segue mostrando que é possível equilibrar produtividade e preservação, plantando, literalmente, o futuro que se quer colher.


 

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