O
Comitê Nobel Norueguês divulgou, na última sexta-feira (6), que irá laurear a
ativista iraniana Narges Mohammadi com o prêmio Nobel da Paz de 2023. Narges é
uma das vozes mais importantes na luta pelos direitos humanos, sobretudo na
defesa dos direitos das mulheres, pela abolição da pena de morte e pela não
obrigatoriedade do uso do véu islâmico, o hijab. Ela se destacou durante a
mobilização de milhares de manifestantes no Irã após a morte da jovem curda
Mahsa Amini, sob custódia policial, por utilização incorreta do véu.
Ao
anunciar a vencedora, o comitê destacou que a "luta corajosa" de
Narges Mohammadi pela liberdade de expressão lhe trouxe "enormes custos
pessoeliomarais". Atualmente, a ativista está encarcerada na prisão de
Evin, em Teerã, cumprindo várias penas, principalmente pela acusação de difusão
de propaganda contra o Estado.
De
certo modo, o Comitê Nobel Norueguês tem reconhecido a batalha de diversas
personalidades pelos direitos das mulheres e pela emancipação feminina, seja no
campo social, político ou econômico. Narges Mohammadi, por exemplo, é vice-presidente
da organização Centro de Defensores dos Direitos Humanos, organização não
governamental fundada por Shirin Ebadi, laureada com o Nobel da Paz em 2003
pela defesa das crianças, mulheres e refugiados.
Outro
exemplo importante é do bengali Muhammad Yunus, vencedor em 2006, que estará na
Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, em 20 de outubro, durante
a programação do Mundo Unifor. O economista foi agraciado por seu trabalho
revolucionário com o Grameen Bank, instituição financeira fundada por ele, que
oferece microcréditos sem a necessidade de garantias para os mais pobres de
Bangladesh, sendo que a maioria dos beneficiários são mulheres. Através deste
sistema, Yunus proporcionou a milhares de mulheres a oportunidade de iniciar seus
próprios negócios, conquistar autonomia financeira e, assim, combater a
pobreza.
Ao
desafiar o sistema bancário tradicional, provando que os pobres são dignos de
confiança e capazes de gerar desenvolvimento sustentável, Yunus, comprovou que
o microcrédito é mais do que apenas um empréstimo: é uma forma de confiar nos
mais vulneráveis e dar-lhes a oportunidade de se empoderar e transformar suas
vidas, como ele mesmo defende.
Microcrédito
como ferramenta
Em
1974, Yunus concebeu a ideia de criar um banco após testemunhar os devastadores
efeitos de uma intensa onda de fome em seu país. Na época, ele era professor de
economia na Universidade de Chitagong e se sentiu profundamente afetado pelas
condições precárias enfrentadas pelos menos favorecidos.
"Era
muito difícil ensinar todas aquelas belas teorias econômicas enquanto as
pessoas morriam de fome", comenta Yunus.
Ele
decidiu investigar as causas da fome e concluiu que muitas dessas situações
poderiam ser prevenidas se as pessoas tivessem acesso a pequenos montantes de
dinheiro para, por exemplo, adquirir sementes. No entanto, o grande desafio era
que as populações mais vulneráveis dificilmente conseguiam empréstimos, pois
não tinham garantias a oferecer.
"As
pessoas viviam em um nível tão baixo que não podiam poupar nem um centavo. Seus
filhos estavam condenados a viver na penúria, sem nunca poder ter a menor
reserva de dinheiro", destaca Yunus.
Assim,
ele decidiu criar uma instituição focada em fornecer microcréditos, valores
modestos mas suficientes para fazer a diferença na vida dos necessitados. Sua
primeira ação foi conceder US$ 27 a um grupo de 42 bengaleses. Com o passar dos
anos, a taxa de inadimplência se mostrou mínima. Para assegurar a devolução dos
empréstimos, Yunus adotou estratégias específicas, como priorizar as mulheres.
"Elas tendem a ser mais responsáveis", ele explica.
Lideranças
pela liberdade
Enquanto
Muhammad Yunus empodera mulheres economicamente, proporcionando-lhes
ferramentas para romper com o ciclo da pobreza, Narges Mohammadi luta
valentemente pelos seus direitos fundamentais. Ambos mostram que a luta pela
igualdade e justiça pode e deve ser abordada por diferentes frentes. Em um
mundo repleto de desafios, suas histórias são um farol de esperança.
Neste
século, algumas personalidades foram laureadas por promover a justiça, a
equidade e os direitos humanos, em especial das mulheres, como: Shirin Ebadi
(2003); Leymah Gbowee, Tawakkol Karman e Ellen Johnson Sirleaf (2011); Kailash Satyarthi
e Malala Yousafzai (2014), Denis Mukwege e Nadia Murad (2018); e Abiy Ahmed Ali
(2019). Em contextos distintos, eles nos lembram que a mudança é possível, e
que cada ato, por menor que pareça, pode ter um impacto profundo na sociedade.
O Nobel da Paz, ao reconhecer esses esforços, amplifica suas vozes e nos chama
à ação.
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