domingo, 22 de outubro de 2023

MULHERES À OBRA

Manu e Isabel - Foto: Gabriela Furlan

Não é à toa que chega em sua 11º edição o curso Mulheres à Obra, com cinco aulas diferentes, criado pelo Palácio da Ferramenta. E por trás dessa logística, está Emanuela Fidelis, com 39 anos. Bonitona e feminina, se apresenta maquiada e com unhas feitas, e tem o objetivo de ensinar mulheres a utilizarem ferramentas elétricas, assim como a solucionarem pequenos reparos domésticos cotidianos.

E essa paulistana acredita, piamente, que lugar de mulher também é na obra ou nos reparos domésticos. Com formação Acadêmica é Técnica em Saúde e Segurança do Trabalho e Organizadora de Eventos, trabalhando nos dois segmentos, desenvolve ainda materiais de ensino de capacitação das NR’s – normas regulamentadoras e TEM - Ministério do Trabalho. Incansável, hoje trabalha como mentora comportamental, com isso trabalha crença militantes.

“Acredito que essa coisa de ferramentas é só para homens, é uma crença militante. De tanto escutar, acabamos acreditando. Isso acredito que cada ser humano pode escolher o que quiser fazer. Temos muitas crenças. Hoje em dia como mentora comportamental quero leva isso para essas mulheres do Projeto. O lugar delas sempre foi onde elas quiserem. Comenta Manu.

Agora, sua paixão por ferramentas não fica para trás. Seu amor pelas maquinas começou quando começou a trabalhar em uma multinacional que fabricava ferramentas, onde foi contratada para trabalhar como demonstradora. E logo passou a atender e ter contato direto com todo aquele mundo de ferramentas que parecem estranhas, pesadas e complicadas, mas, ledo engano, por achar que esses objetos representam um bicho de 7 cabeças.

E Emanuela descobriu que tinha jeito pra coisa, começou fazendo demonstração para os clientes, atividade comum dentro do Palácio da Ferramenta, porém todas as vezes que tinha demonstração, ia com um outro promotor fazer a demonstração prática. E claro, dessas demonstrações já conhecia muito bem a parte teórica das ferramentas, então a curiosidade fez querer aprender na prática, não demorou para o primeiro teste na prática. E gostou da experiência, e nem com o “friozinho na barriga”, uma mistura de excitação e medo, desanimou a principiante, principalmente quando viu o resultado do primeiro corte com tico-tico, o medo foi embora e surgiu uma enorme vontade de testar todas as outras, pronto, nascia uma expert.

“Cada máquina que eu ligava era uma sensação de poder, ainda mais eu que moro sozinha, já queria fazer quadro com tupias, furar parede, lixar e tudo mais, me tornei a entendida, logo depois comecei a fazer um mini curso prático em outras revendas para homens e mulheres, participar de feiras e eu sempre fazia bonecas de MDF, nunca ficava com nenhuma, os alunos carregavam sempre. Depois disso eu virei a tarada da ferramenta, atualmente tenho 5 maletas, fora as máquinas”. É... ela já domina o assunto.

No fim de 2016, recebeu de Isabel Gomes, diretora de marketing da tradicional loja Palácio da Ferramenta funcionado, há 52 anos, no Centro da Cidade, a incumbência de alinhar os cursos Mulheres à Obra. A ideia do curso fez Emanuela “pirar”, ainda mais porque a organização trouxe pequenos detalhes como camisas, laços, logomarca, enfim, material fofo, superando suas expectativas.

- A logo é uma mulher com uma bandana vermelha, o braço em pose de força e os dizeres “O lugar de mulher é onde ela quiser” – E essa mensagem vem inspirada na musa feminista Naomi Parker Fraley (ela foi um marco na segunda guerra mundial e na história do feminismo), faleceu aos 96 anos, em janeiro de 2018. E até hoje, já passaram pelo menos 2000 mulheres nas edições anteriores.

E o projeto surgiu para homenagear as mulheres e no mês delas, alusivo ao Dia Internacional da Mulher que é celebrado em 8 de março. O Dia da Mulher surgiu no final do século XIX nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho, e pelo direito de voto.

“O Mulheres à Obra é o jeito que o Palácio da Ferramenta encontrou para homenagear mulheres no seu dia internacional, emponderando-as e transformando as suas vidas”, atesta Isabel Gomes.

Voltando à nossa instrutora, assumidamente uma mulher empoderada, casada, cuida de um sitio e trabalhando com ferramentas, lhe deu autonomia para resolver pequenos problemas domésticos, tais como: trocar botijão de gás, resistência de chuveiro, montar e desmontar móveis, pintar parede, entre outros. Então quando viu a possibilidade de ajudar outras mulheres, para ela foi o máximo, e atesta que não tem mistério. “O que tinha eram apenas homens dizendo que não éramos capazes, por longos anos a mulherada internalizou isso e tomou como uma verdade”, afirma.

Garante que os cursos são incríveis e nas aulas práticas, logo que pegam nas ferramentas, uma vai ensinando a outra, e ela se realiza. Na verdade, fica encantada com a evolução das outras mulheres e vem a certeza que o projeto veio romper barreiras.

E não pense que é só uma aventura, as empresas já descobriam o grande potencial delas e muitas já oferecem ao mercado, ferramentas variadas, menores, leves e acredite, em cores rosas. E Emanuela é a musa do momento, quase sem tempo, sua rotina é intensa, sempre envolvida com obras, apaixonada por livros, principalmente os clássicos da literatura brasileira, como Quincas Borba e Alienista (Machado de Assis), ela literalmente, põe a mão na massa e cada vez que é chamada para implantar o projeto, fica eufórica. Seu lema é: lugar de mulher, é onde ela quiser. “Eu gostei muito da iniciativa do projeto, que além de promover a inclusão das mulheres em uma área um tanto quanto masculina, nos permitiu vencer nossos medos. Medos esses que já vêm enraizados em nossa sociedade há muito tempo.

Pode parecer algo bobo, mas não é, o medo de ferramentas nasceu junto com um patriarcado onde as mulheres não poderiam desenvolver sua autonomia. Esse curso é uma forma de liberdade e autogestão onde nossos medos possam ser superados junto com a força de que a mulher é livre e tem capacidade de fazer o que quiser! Obrigada.” - Izabelle Santos – 29 Anos (aluna da primeira edição).


 

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