A
Praia de Copacabana se tornou, mais uma vez, palco de uma grande manifestação
pela liberdade religiosa. O evento, que já faz parte do calendário oficial da
cidade, é realizado todos os anos, sempre no terceiro domingo de setembro. A
caminhada reúne adeptos de diversos credos, que se unem para pedir paz e chamar
atenção para os casos de intolerância religiosa e racismo.
A
Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, um dos principais eventos do país
voltados para a proteção dos direitos religiosos, é convocada anualmente por
duas entidades: o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP),
que desde 1989 atua na promoção da cultura negra como forma de combate ao
racismo e à intolerância religiosa, e pela Comissão de Combate à Intolerância
Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR), fundada em 2008, inicialmente por
umbandistas e candomblecistas, mas que hoje agrega representantes das mais
variadas crenças. A CCIR é única no mundo por reunir adeptos de diversas
religiões em sua composição.
Esta
edição contou com dois momentos. O primeiro foi um café da manhã para
convidados em um hotel no mesmo bairro, com a presença de figuras de destaque,
como a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, em sua
primeira agenda pública. Também estiveram presentes Magda Chambriard,
presidente da Petrobrás, Clarice Coppetti, diretora da Petrobrás, José Maria
Rangel, gerente executivo de Responsabilidade Social da Petrobrás, Maíra
Junqueira, da Fundação Ford, Kellen Julio, diretora de Inovação e Diversidade
de Conteúdo dos Estúdios Globo.
Além
de intelectuais negros como Renato Noguera e Helena Theodoro, Cristina
Fernandes e Mariana Fidalgo Fernandes Warth - a Editora Pallas, acadêmicos,
lideranças religiosas, movimentos sociais, defensores dos direitos humanos,
membros do Ministério Público, a deputada federal Benedita da Silva (PT), o
ator Antônio Pitanga, João Jorge, presidente da Fundação Palmares (mesmo em
férias, fez questão de comparecer), e lideranças internacionais como Jokotoye
Awolade Bankole, chefe da família real de Onpetu, em Ogbomosho (Nigéria), e o
Babalawô Dayo Awe, entre outros.
"O
grande desafio hoje, no nosso país, é a redução das desigualdades. Para mim, é
muito importante estar presente nessa caminhada porque, além do direito à
liberdade religiosa, todas essas pessoas também lutam por muitas outras causas:
contra a fome, pelo trabalho decente e por uma política de cuidado, que talvez
seja a principal pauta das nossas comunidades. Cuidar das crianças, que muitas
vezes estão no trabalho infantil. Cuidar dos direitos da população idosa.
Cuidar de quem cuida. E, na maioria das vezes, quem cuida são as
mulheres", disse Macaé Evaristo. A ministra recebeu do Prof. Ivanir o
Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
Para o
Babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da CCIR - "Somos responsáveis e
embaixadores do diálogo, é preciso agir para construir uma sociedade mais justa
e em defesa da liberdade religiosa e do Estado laico, provocando reflexões em
prol do fortalecimento das bases democráticas". O sacerdote, reverenciado
internacionalmente por sua atuação incansável há mais de 40 anos em causas de
direitos humanos e na luta contra o racismo e a intolerância religiosa, é
Babalawô, professor do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ,
interlocutor da CCIR e fundador do CEAP.
O
segundo momento da caminhada começou com a concentração dos participantes às
10h, no Posto 5 de Copacabana. Por volta das 13h, teve início a caminhada pela
orla. No início da tarde, a ministra Macaé Evaristo foi recebida com aplausos e
reafirmou o compromisso do governo em combater a intolerância religiosa. -
"É uma alegria estar aqui, nesta caminhada que tem um sentido muito bonito
de pacificação e defesa do direito que todas as pessoas têm à sua fé e à sua
relação com o sagrado. Que nesta caminhada tranquila possamos construir uma
comunidade que lute pelo respeito e pela diversidade religiosa. Contem com o
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para assegurar que nosso Estado
seja laico e respeite cada uma das religiões", afirmou a ministra.
A
caminhada recebeu caravanas vindas de outros estados, além de representantes da
OAB, ABI, entidades públicas e privadas, políticos, religiosos de diversas
crenças, com grande presença de adeptos de religiões de matriz africana — que
são os maiores alvos de intolerância religiosa —, evangélicos, católicos,
budistas, muçulmanos, judeus, wiccanos, hare krishnas, ciganos, entre outros.
A
concentração foi aberta com uma "ladainha", conduzida por dez grupos
de Folia de Reis e Reisados, além de apresentações de grupos culturais como o
Bloco Filhos de Gandhi, Grupo Cultural Afro Tafaraogi, Associação Cultural
Bloco Carnavalesco Orunmilá, Grupo Afro Agbara Dudu, Jongo Filhos de Benedito,
entre outros. Durante todo o trajeto, discursos de representantes religiosos.
Segundo
Padre Gegê, pároco na Paróquia Santa Bernadete, psicólogo e mestre em teologia
(PUC-RIO) e Doutor em Ciência da Religião (PUC-SP), a atividade é de grande
importância. "A Caminhada foi para mim e para os membros de minha paróquia
um momento singular de afirmação da diversidade. Reverberou (e reverbera) o
protagonismo das Comunidades de Terreiros na construção de um mundo de justiça
e paz. Como sacerdote católico leio na Caminhada o sonho bonito do Papa
Francisco. Mesmo se não fosse religioso, se não acreditasse em Deus, ainda
assim teria a Caminhada como extraordinária ferramenta para a construção de um
Brasil democrático e plural".
No
meio da tarde, o evento contou com show da cantora Rita Benneditto, do cantor
evangélico Kleber Lucas e do músico Thiago Thomé, encerrado com a Bateria da
Mangueira. A atividade teve apoio de três trios elétricos e diversas
apresentações culturais, que trouxeram ainda mais energia ao evento, encerrando
o dia com muita música, alegria e harmonia. Segundo a organização, as
expectativas foram superadas, recebendo em torno de 80 mil pessoas.
Respeitar
as crenças do outro é reconhecer a jornada espiritual individual e coletiva.
Axé, Amém, Saravá, Shalom, Om Shanti, Aleluia, Namastê, Salaam Aleikum.
q lindo
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