Em meio
ao movimento da Praia de Iracema, abre-se um espaço onde o sonho se transforma
em som. Lançado em agosto de 2025, o projeto O Sonho e o Som, do Centro
Cultural Belchior (CCBel), nasce como gesto de escuta, acolhimento e impulso:
dar forma, visibilidade e caminhos às músicas que brotam nas esquinas, nas
pistas de dança e nos estúdios improvisados de Fortaleza.
Foram 107
inscrições enviadas pelo Mapa Cultural do Ceará. Dessas, dez artistas foram selecionados
para viver uma imersão criativa de quatro meses: Ayla Lemos, Batuta, Caiô,
Dipas, Joana Lima, Mateus Honori, Mumutante, Otto, Rosabeatz e Zabeli.
Ao longo
do percurso, cada artista recebe consultorias em gestão de carreira e
comunicação, além de uma produção musical completa – gravação, edição, mixagem
e masterização – e uma oficina voltada para distribuição digital. O
encerramento reserva um presente ao público: um show especial e o lançamento de
um álbum coletivo, com uma faixa de cada participante, a ser disponibilizado
nas principais plataformas de streaming.
Mais do
que números, este é um projeto que envolve vidas, experiências e narrativas da
cena musical de Fortaleza. É o caso de Batuta, artista que transforma o
cotidiano das periferias em poesia rimada e cantada. Para ele, a rua é estúdio,
inspiração e matéria-prima de suas criações. “Essas três músicas que mandei são
muito do que eu vivo nas ruas de Fortaleza no momento. Elas vêm do que eu sou
tocado pelos movimentos periféricos, do que rola nos reggaes, nos sound
systems, da galera fazendo passinho pelas ruas, do pessoal dando rolê de bike.
Tudo isso inspirou bastante a minha escrita”, afirma.
Já para
Mateus Honori, o projeto surgiu como resposta às inquietações que vão além da
criação musical. O artista reflete sobre os desafios de dar continuidade à obra
e construir um caminho profissional sólido. “As expectativas são as maiores
possíveis e vêm se concretizando a cada etapa do processo. A minha grande
preocupação nessa nova empreitada de fazer música era o que vem depois de
criar, de tocar, de se apresentar. Como é que eu gravo isso com qualidade, como
penso em distribuição, em gerenciamento de carreira, em comunicação e imprensa?
O CCBel veio responder todas essas minhas perguntas”, diz.
Mateus
reforça o propósito d’O Sonho e o Som: ser um espaço de encontro entre desejo e
possibilidade, entre o coletivo e o individual, entre a cidade e seus
criadores.
Conheça
os 10 selecionados
Ayla
Lemos
Jovem
multi-instrumentista e compositora de Fortaleza (CE). Aos 27 anos, já soma mais
de 10 anos de carreira, participando de shows, turnês e gravações com artistas
de diferentes gêneros, no Brasil e também no cenário internacional.
Batuta
Ator,
palhaço, poeta, cantor, compositor e músico de Fortaleza (CE). Iniciou nas
artes em 2001, aos 11 anos, e integrou montagens de diversos grupos de teatro
da cidade. Atualmente, apresenta o projeto autoral Quando eu Era Velho, no qual
mistura ritmos e gêneros das tradições populares com experimentos eletrônicos,
forró, coco, maracatu, cumbia, rap e reggae, criando uma experiência sonora
única nos palcos, nas casas de show e nas ruas por onde passa.
Caiô
Músico
autodidata, compositor, ator, produtor cultural e graduando em Pedagogia pela
Universidade Estadual do Ceará (Uece). Idealizador e diretor do Festival Black
Era Fortal, lidera a banda OUTRAGALERA, referência na cena independente
cearense, com turnês pelo Brasil e abertura para a banda internacional Steel
Pulse. Tem composições gravadas por Margareth Menezes, Luiza Nobel, Lorena
Nunes e Jup do Bairro. Produziu e interpretou os álbuns premiados Jesus Ñ
Voltará e Rolê nas Ruínas, de Mateus Fazeno Rock. Também criou o projeto Um
Salve à Música Negra Cearense, em parceria com Anelis Assumpção.
Dipas
Artista e
cientista social atuante em Fortaleza (CE) desde 2003. Seu trabalho é marcado
pela multidisciplinaridade, dialogando entre música, teatro, cinema e antropologia.
Como cantor, lançou em 2014 o álbum Filho de Manicure. Em 2023, retomou sua
pesquisa em música urbana, propondo conexões entre samba, pagode, rap, trap e
funk. Dessa experimentação, nasceu o single Tipo Chet Baker (2023), em parceria
com Mateus Farias.
Joana
Lima
Autodidata,
desenvolveu sua trajetória como multi-instrumentista, arranjadora, produtora,
compositora e educadora musical. Desde a infância demonstrava habilidades
ligadas à percepção musical. Aos 28 anos, tem se consolidado principalmente
como sidewoman, acompanhando artistas como Luiza Nobel, Mona Gadelha e Getúlio
Abelha. Atualmente, integra projetos de Silvero Pereira, Mulher Barbada, o
coletivo Roda das Minas, entre outros.
Mateus
Honori
Ator,
compositor e multi-instrumentista. Atuou na série Guerreiros do Sol (Globoplay)
e no elenco principal de O Cangaceiro do Futuro (Netflix), de Halder Gomes. Em
2025, estreou o show Luar, no qual canta, toca e assina a direção musical ao
lado de Lua Martins. Honori se dedica também ao estudo do violão brasileiro. Em
2026, inicia a produção de seu primeiro EP, A Reza.
Mumutante
Multiartista,
transita por diversas linguagens e constrói uma trajetória na música autoral
marcada pela vivência enquanto travesti de favela, trazendo sobretudo a temática
do amor. Em suas composições, passeia pelo reggae, soul, funk e hip hop. No
show Mutação Rara, apresenta-se ao lado da banda com músicas próprias e
interpretações de clássicos da música brasileira, de nomes como Cartola e Elza
Soares.
Otto
Artista
independente que une poesia e música, fortalecendo a representatividade
transmasculina e negra. Transita pela MPB, pelo rap e pelo soul, trazendo à
cena suas vivências atravessadas por coragem, afeto e resistência. Já se
apresentou em importantes espaços culturais de Fortaleza (CE). Atualmente,
desenvolve seu primeiro EP, Nossos Corpos Até Onde Der, um manifesto em soul
sobre existir com dignidade diante da desigualdade.
Rosabeatz
Multiartista
de Fortaleza (CE) que iniciou sua trajetória em 2012 como produtor musical,
instrumentista e diretor criativo, atuando na cena de música eletrônica e rock
alternativo. Colaborou com diversos artistas e consolidou sua identidade em
projetos solo. Em 2019, participou do Laboratório de Música da Escola Porto
Iracema das Artes, sob tutoria do produtor Mulú (Pabllo Vittar, Duda Beat,
Luedji Luna). Desde então, segue explorando sua interpretação singular da
música pop eletrônica, expandindo sua presença para novos nichos e regiões.
Zabeli
Rapper,
poeta e compositora de Fortaleza (CE). Vinda do bairro Jardim Iracema, está
presente na cena do hip hop cearense desde 2016, quando iniciou sua caminhada
em saraus e eventos de palco aberto. Sua arte transita do boombap ao drill,
expressando amor, fúria e resistência, mostrando que o underground segue vivo e
pulsante em Fortal.
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