Sancionado
pelo presidente da República a uma Lei Complementar em janeiro de 2025, a
Reforma Tributária deu grande passo este ano. O projeto está sendo discutido
desde 2019, quando a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 45/2019 foi
lançada. Antes de receber a sanção presidencial, a reforma havia se tornado uma
uma Proposta de Lei Complementar (PLP) em 2024.
Com
isso, o Brasil inicia um processo de transição para um novo modelo tributário,
que promete simplificar a arrecadação de impostos e reduzir a burocracia. Mas,
afinal, o que muda com a Reforma Tributária e como essas alterações impactam as
empresas?
O que
é a reforma tributária?
O
projeto da reforma tributária tem como objetivo reformular o sistema de
impostos do Brasil, buscando deixá-lo mais simples e menos burocrático. Para
fazer isso, o projeto pretende acabar com diferentes impostos, sejam federais,
estaduais e municipais, para criar uma única tarifa.
Essa
possível mudança visa combater a alta carga tributária, quantidade de impostos
que pessoas jurídicas (PJ) e físicas (PF) pagam ao governo, presente no Brasil.
Em 2024, segundo o estudo Revenue Statistics in Latin America and the
Caribbean, essa carga fiscal representou 33% do Produto Interno Bruto (PIB) do
país.
“A
alta carga tributária afeta diretamente o setor empresarial, visto que a grande
quantidade de impostos desestimula a criação de novas empresas, ou seja, novos
postos de trabalho. Fora que a tributação de diferentes tarifas é vista como
complexa para muitas pessoas, o que ocasiona erros na quitação e nas
declarações, consequentemente gerando multas”, explica Mayanne Teixeira,
coordenadora de Inteligência e Performance da Conecta Consultoria Contábil.
Extinção
e substituição de impostos
1.)
IVA
Entendendo
a grande quantidade de impostos e sua complexidade de declaração, o projeto da
Reforma Tributária se inspirou no sistema fiscal de locais como a União
Europeia e o Canadá, para criação de um imposto unificado, chamado de IVA
(Imposto sobre Valor Agregado).
“Esse
novo modelo será dividido em duas cobranças, o IBS e o CBS, que, até então, o
projeto recomendou que suas taxas sejam, respectivamente, 18,7% e 9,3%. Ele
visa unificar os principais tributos sobre o consumo de bens e serviços, que
atualmente são cobrados com diferentes taxas nos âmbitos federal, estadual e
municipal”, fala Mayanne.
2.)
Imposto sobre Bens e Serviços (IBS)
O
Imposto sobre Bens e Serviço (IBS) será a cobrança que irá substituir o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Serviço
(ISS). Ele será administrado pelos estados e pelos municípios, com seu
recolhimento sendo destinado para os cofres de ambos.
Ele
será cobrado em todas as etapas de comercialização, mas de forma não-cumulativa.
Ou seja, a taxa será fixada em 18,7% durante todo o processo, não aplicando a
alíquota em cada nota fiscal no processo de produção a comercialização.
3.)
Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS)
Enquanto
isso, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) tomará o lugar do Programa de
Integração Social (PIS), da Contribuição de Financiamento da Seguridade Social
(Cofins) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Essa cobrança será
de responsabilidade federal, e assim como IBS, não será cobrada de forma
cumulativa.
4.)
Imposto Seletivo (IS)
Com o
modelo do IVA, também será criado o Imposto Seletivo (IS), uma tarifa sobre
produtos considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente. Ele será
cobrado sobre mercadorias como cigarros, bebidas alcoólicas e veículos
poluentes.
Essa
cobrança foi criada com o objetivo de conscientizar e desestimular o consumo
desses tipos de produtos, além de garantir outra fonte de arrecadação para o
governo.
Como a
reforma tributária impacta diretamente as empresas?
1.)
Redução da burocracia
Atualmente,
o sistema tributário brasileiro exige que as empresas lidem com diferentes
taxas e regras para cada estado e município. Com a Reforma Tributária, através
do modelo IVA, no total, cinco impostos serão substituídos por dois, o que
diminui de maneira significativa a burocracia e simplifica as obrigações
fiscais.
“Com a
unificação dos impostos, as empresas terão menos obrigações acessórias e menos
necessidade de interpretar legislações distintas para cada região do país. Isso
reduz custos administrativos e o risco de penalidades por erros na apuração dos
tributos, o que é um grande avanço para o ambiente de negócios no Brasil.”,
comenta Mayanne.
2.)
Redução da carga tributária para alguns setores
Devido
ao atual sistema tributário do Brasil, alguns setores são afetados diretamente
por impostos cumulativos, como a indústria e o comércio. Com a Reforma
Tributária, será possível recuperar créditos tributários ao longo da cadeia
produtiva, o que pode reduzir os custos e tornar os preços mais acessíveis e
competitivos.
3.)
Adaptação a novas regras e sistemas
Embora
a reforma simplifique a tributação, a transição exigirá que as empresas
atualizem seus sistemas de gestão e capacitem suas equipes contábeis. A
substituição de tributos e a criação de novas alíquotas exigirão ajustes nos
sistemas de faturamento, emissão de notas fiscais e planejamento tributário.
“Mesmo
com a promessa de simplificação, a adaptação inicial exigirá investimento em
tecnologia e capacitação da equipe contábil. Muitas empresas precisarão
atualizar softwares, revisar contratos e entender os novos cálculos tributários
para evitar surpresas na transição. O planejamento nesse momento será essencial
para evitar impactos negativos no fluxo de caixa”, diz Mayanne.
4.)
Impacto no setor de serviços
Com a
Reforma Tributária, alguns setores serão mais impactados, um deles será o de
serviço. Através do sistema tributário atual, muitas empresas desse segmento
pagam apenas o ISS, que tem taxas entre 2% e 5%. Com a possível adoção do
método IVA, essas empresas deverão aumentar o pagamento de suas tarifas, o que
pode resultar em um aumento do custo para essas empresas.
“Isso
pode levar a reajustes de preços e até à reestruturação de modelos de negócio
para minimizar esse impacto. Empresas desse setor irão precisar reavaliar seus
custos e estratégias para manter a competitividade”, fala Mayanne.
A
Reforma Tributária traz mudanças significativas que podem simplificar a
tributação e reduzir custos para alguns setores, mas também exige adaptação e
planejamento. Para as empresas, entender as novas regras e se preparar com
antecedência será essencial para minimizar impactos e aproveitar os benefícios
do novo sistema tributário.
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