Em um
cenário corporativo marcado por instabilidade e cobranças crescentes, quem
deveria zelar pelo bem-estar emocional das equipes tem enfrentado suas próprias
crises. Segundo pesquisas da Recarrega RH, conduzida pela Flash, o setor segue
adoecendo sob o peso da sobrecarga e da falta de apoio institucional.
De
acordo com o levantamento, 78% dos profissionais de RH relatam sentir
sobrecarga de média a extrema intensidade em 2025 — um número ligeiramente
inferior ao registrado em 2024 (82%), mas ainda preocupante. A pressão está
associada principalmente às longas jornadas de trabalho, que em muitos casos
ultrapassam dez horas diárias. Esses dados evidenciam que até mesmo os
profissionais responsáveis pelo bem-estar organizacional estão sendo impactados
por ambientes corporativos tóxicos.
Para a
psicóloga Fernanda Macedo, diretora da consultoria Life DH, o resultado reflete
um desequilíbrio estrutural nas relações de trabalho. “O RH muitas vezes é
visto como o setor responsável por cuidar da saúde emocional dos outros, mas
raramente recebe o mesmo tipo de cuidado da organização”, avalia. Segundo ela,
a falta de espaços de escuta e de estratégias institucionais de apoio tem
levado muitos profissionais da área a buscar ajuda externa, seja em grupos
terapêuticos, seja em programas de desenvolvimento emocional.
A nova
atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), prevista para entrar em vigor
em 2026, é apontada como uma possível fonte de alívio para os profissionais de
RH. Cerca de 90% deles acreditam que a mudança trará impactos positivos para a
saúde mental, ao conferir maior respaldo institucional às ações de bem-estar e
contribuir para a redução da sobrecarga no ambiente de trabalho. A atualização
da norma reforça o compromisso com ambientes corporativos mais seguros e
saudáveis, fortalecendo a priorização da saúde mental dos colaboradores.
Para
Fernanda Macedo, no entanto, a transformação não depende apenas da legislação.
“As empresas precisam reconhecer que cuidar de quem cuida é uma questão de
sustentabilidade humana. Enquanto o RH continuar atuando sob pressão constante,
qualquer iniciativa de saúde mental será apenas paliativa”, afirma.
Com a
crescente demanda emocional dentro das organizações, cresce também o movimento
de empresas que buscam apoio externo especializado para desenvolver políticas de
cuidado mais efetivas. A tendência é que o bem-estar corporativo deixe de ser
um tema pouco comentado e passe a ocupar espaço estratégico nas decisões de
gestão, começando por quem sustenta o equilíbrio interno: os próprios
profissionais de Recursos Humanos.
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