O
bairro mais antigo de Fortaleza é também o que reúne uma beleza natural de
encher os olhos. A Barra do Ceará, local considerado o berço histórico do
Estado, por onde se iniciou a colonização do território, também será pioneiro
ao receber o 1º Museu Orgânico da Capital, o Espaço Gastronômico Cultural
Albertu’s Restaurante. Estabelecimento tradicional da Barra, não abriga apenas
os sabores da gastronomia regional, mas também é memória, afeto e
resistência.
O
Sistema Fecomércio Ceará, por meio do Sesc, inaugura o espaço, no dia 16 de
fevereiro, a partir das 09h30. Será o 15º museu orgânico de uma rede de fomento
à tradição. Segundo o gerente de cultura do Sesc Ceará, Alemberg Quindins, o
restaurante Albertu’s foi escolhido para se tornar um Museu Orgânico por ser um
espaço de valorização da gastronomia tradicional litorânea, aliada ao fato de
ser um ponto de memória histórica da colonização do Ceará.
Para
Alemberg, há uma simbologia o fato do 1º Museu Orgânico em Fortaleza, ser
localizado na Barra do Ceará, principalmente por estar ligado historicamente ao
litoral, aos caminhos coloniais da navegação que formam um dos últimos ciclos
de incursão no continente americano. “A Capital do Estado é uma vitrine do
território, portanto, esse território tem que ser integrado através de formação
de rede, e os Museus Orgânicos são uma rede cultural da memória dos fazeres e
saberes desse povo cearense”, observa.
Onde o
rio beija o mar
“Dunas
de areia clara, rodeada por uma vegetação densa que se estende pelas margens do
rio Ceará, que surgia imenso em seu encontro com o mar”. Segundo a arqueóloga e
pesquisadora Ligia Rodrigues, é assim que Alberto de Souza, proprietário do
restaurante Albertu’s, lembra a paisagem que encontrou logo que chegou à Barra
do Ceará, em 1964, aos 04 anos de idade.
“Como
um artesão da memória, ao falar de si, de sua própria trajetória, Alberto de
Souza alinha os fios da história da Barra do Ceará. Faz ressurgir inúmeras
personagens que construíram este espaço, fala do rápido crescimento
populacional, na implementação das indústrias na zona oeste da cidade, no
remodelamento do bairro que cresceu vertiginosamente com abertura de vias que
fizeram sumir as dunas”, destaca a historiadora.
Por
seis décadas o restaurante Albertu’s, nascido em meados da década de 1960, num
pequeno casebre de barro, resiste no mesmo espaço, segundo Ligia Rodrigues,
ameaçado de expulsão em decorrência dos projetos urbanísticos, derrubado pelas
marés, fragilizado pelas mudanças econômicas.
“O
Albertu’s é parte de uma história com inúmeras camadas, que pouco a pouco vai
se fazendo, não apenas a partir de personagens que ganham vulto na vida
pública, no campo da política ou da economia, mas no dia a dia de um povo
praiano, que insiste em manter ali suas raízes”, complementa.
Memória
Para
Alberto de Souza, ter seu restaurante nomeado como um Museu Orgânico, vai
elevar a autoestima do bairro, das pessoas que ali moram, trazendo a elas a
sensação de pertencimento e de importância da Barra do Ceará. “O Sesc, com essa
proposta, traz uma inovação, porque os Museus também falam das pessoas, das
memorias, dos afetos, e da resistência. Acho isso de grande importância”,
reforça.
Ele
pontua que as pessoas estão se apropriando do lugar, e acredita que essa é a
finalidade de um Museu Orgânico. “Nós queremos discutir a cidade a partir da
Barra do Ceará. Acredito que o Turismo vai também passar por aqui, para
conhecer o espaço, o bairro e a sua história. Minha família está muito
lisonjeada e agradecida. Não tenho nem palavras para dizer o orgulho que
sentimos e o tamanho da responsabilidade que temos”, finaliza.
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